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INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MATO GROSSO
DIRETORIA
1º Vice-Presidente: - Archimedes Pereira Lima
2º Vice-Presidente: - Virgílio Alves Corrêa Neto
1º Secretário: - Pedro Rocha Jucá 2º Secretário: - Vera Randazzo Tesoureiro:
Orador Oficial: - Paulo Pitaluga Costa e Silva
CONSELHO FISCAL SEDE PRÓPRIA: CASA BARÃO DE MELGAÇO
(esquina da Travessa Voluntários da Pátria)
Escritura de doação do Governo do Estado, de 15 de abril de 1931, às fls. 96v a 97v, do livro 143, do Cartório do 2° Oficio
de Cuiabá, e transcrito sob n° 2.102, fls. 199, livro 3-B, em 15/04/1931, no R.G.I. de Cuiabá. Estatutos registrados no Cartório do 1° Oficio, sob n° 14, em 24/04/1930.
Biblioteca Virtual José de Mesquita
Reconhecido de Utilidade Pública, pela lei Estadual n° 815, de
http://www.jmesquita.brtdata.com.br/bvjmesquita.htm
08/10/1930. Conta Bancária: BEMAT - 02.3708-B (agência da
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O CENTENÁRIO DE JOSÉ DE MESQUITA -
O LEGADO DE JOSÉ DE MESQUITA -Antônio 25
ESCRITORES MATOGROSSENSES: JOSÉ DE 31
EDIÇÃO
DE MESQUITA - Benedito Pereira do Nascimento
EM HOMENAGEM A
UMA INTRODUÇÃO - Benedito Pedro Dorileo
JOSÉ DE MESQUITA
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Exerceu os cargos de Professor de Português da Escola
Normal, Procurador Geral do Estado de Mato Grosso Diretor
da Secretaria do Governo, Juiz de Direito da Comarca do
Registro de Araguaia, Professor da Faculdade de Direito de
Cuiabá (Direito Constitucional) e Desembargador do Tribunal
O CENTENÁRIO DE JOSÉ DE MESQUITA,
de Justiça de Mato Grosso, que presidiu de 1930 a 1940,
FUNDADOR DA ACADEMIA MATOGROSSENSE DE LETRAS
Após sua aposentadoria, dedicou-se à advocacia, tendo
exercido, ainda, o cargo de Secretário Geral do Território
Clóvis de Mello
Federal do Guaporé, hoje Rondônia, e Procurador Municipal da
Fundador da Academia Matogrossense de Letras,
presidiu-a, ininterruptamente, desde sua fundação até o seu
A 10 de março de corrente ano de 1992, a Academia
Matogrossense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico de
Representou o Tribunal de Justiça no .Congresso
Mato Grosso comemoram o centenário de nascimento de JOSÉ
Nacional de Direito Judiciário e na Conferência Brasileira de
DE MESQUITA, membro Fundador destas entidades culturais,
Criminologia (1936); o Instituto Histórico de Mato Grosso e o
Estado, no congresso Histórico Nacional (1938) e a Academia
JOSÉ DE MESQUITA nasceu em Cuiabá, a 10 de março
Matogrossense de Letras, no 1º Congresso das Academias
de 1892, filho de José Barnabé de Mesquita (Sênior) e Maria
Foi condecorado pelo Papa Pio XI, com a Comenda da
Os dados colhidos no arquivo do pranteado Des.
Ordem de São Silvestre, pelos serviços prestados à Ação
MESQUITA, por seu ilustre filho, Dr. Fernando de Mesquita,
Católica (1933) e foi condecorado, pelo Ministro da Guerra,
com a Medalha do Pacificador, pelos serviços à Pátria (1960).
Faleceu no dia 22 de junho de 1961, em Cuiabá.
1) - Dados Biográficos:
A respeito de seu falecimento, publicou o jornal' 'O
Estado de Mato Grosso", de 23 de junho de 1961, a seguinte
Nasceu a 10 de março de 1892, em Cuiabá, Capital do
Estado de Mato Grosso, filho de José Barnabé de Mesquita
“De luto a inteligência matogrossense pelo falecimento,
(Sênior) e Maria Cerqueira de Mesquita.
ontem, do Desembargador José de Mesquita. O féretro sairá
Bacharel em Ciências e Letras, pelo Liceu Salesiano São
da Academia Matogrossense de Letras, onde está sendo
Gonçalo de Cuiabá (1907) e em Ciências Jurídicas e Sociais
pela Faculdade de Direito de São Paulo (1913), tendo sido
Por outro lado, o Tribunal de Justiça do Estado, pela
Portaria n° 18/61, de 23 de junho de 1961, decretou luto oficial pela perda daquele que, durante 10 anos, exercera a Presidência do Egrégio Tribunal de Justiça.
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Em homenagem póstuma aquele que muito fez por sua
- Nos Jardins de São João Bosco (discurso e conferências) -
terra e sua gente, a Câmara Municipal de Cuiabá, pela Lei n°
600/61, de 08 de novembro de 1961, aprovou o projeto que
- O Exército, fator de brasilidade (discurso) - Rio - 1941
dava a denominação de Rua Desembargador José de Mesquita à
- A Academia Matogrossense de Letras( notícia histórica) -
- Três Poemas da Saudade (poemas) - Cuiabá - 1943
2) - Dados Bibliográficos
- Bibliografia Matogrossense - Cuiabá - 1944
- Escada de Jacó (sonetos) - Cuiabá - 1945
- Roteiro da Felicidade (sonetos) - Cuiabá - 1946
- Elogio histórico ao Df. Antônio Corrêa da Costa - Cuiabá -
- No Tempo da Cadeirinha (contos) - Cuiabá - 1946
- Os Poemas do Guaporé (poemas) - Cuiabá - 1949
- O Catolicismo e a Mulher - Cuiabá - 1921
- Imagem de Jaci (romance) - Cuiabá - 1948 (O presente
- Elogio fúnebre do Dr. Caetano Manoel de Faria e
romance não foi editado até o momento).
- Terra do Berço (poesias) - Cuiabá - 1927
Além das obras acima mencionadas, colaborou em
inúmeras revistas e jornais, tais como: a) O “Cruzeiro” de
- Um Paladino do Nacionalismo (elogio) - Cuiabá - 1929
Cuiabá; b) O Onze de Agosto e a Revista da Faculdade de
- Semeadoras do Futuro (discurso) - Cuiabá - 1930
Direito de São Paulo; c) Revista da Academia Matogrossense
- Epopéia Matogrossense (poesias) - Cuiabá - 1930
de Letras; d) Revista do Instituto Histórico de Mato Grosso; e)
- O Taumaturgo do Sertão (biografia) - Niterói - 1931
Anais Forenses; f) Revista das Academias de Letras, do Rio de
- O Atentado contra a Justiça (tese de direito) - Cuiabá - 1932
Janeiro; g) Aspectos e Cultura Política do Rio de Janeiro; h)
- Espelho de Almas (contos) - Premiado pela Academia
Revista do Brasil, de São Paulo; i) Revista Nova, de São Paulo;
Brasileira de Letras - Rio de Janeiro - 1932
j) Ilustração Brasileira, do Rio de Janeiro; l) O Malho, do Rio
- João Poupino Caldas ( ensaio biográfico) - Cuiabá - 1934
de Janeiro; m) Revista Civilização, de Campo Grande.
- O Sentido da Literatura Matogrossense (conferência) - 1937 -
Jornais: O Povo, O Mato Grosso, Correio do Estado,
Pela Boa Causa (conferência) - Niterói - 1937
Correio Matogrossense, O Democrata, A Cruz e O Estado de
Mato Grosso, com as famosas crônicas “Domingueiras”.
- Relatório da Administração da Justiça - Cuiabá - 1937
- Manoel Alves Ribeiro (biografia) - Cuiabá - 1938
3) - Sociedades a que pertenceu:
- O Sentimento de Brasilidade na História de Mato Grosso
1) Clube Minerva - Cuiabá; 2) Grêmio Olavo Bilac; 3)
- De Lívia a Dona Carmo (mulheres na obra de Machado de
Centro Onze de Agosto - São Paulo; 4) Instituto Histórico de
Mato Grosso - Cuiabá; 5) Centro Matogrossense de Letras -
- Professoras Novas para um mundo novo (discurso paraninfal)
Cuiabá; 6) Instituto do Ceará (Correspondente) - Fortaleza; 7)
Sociedade “Rui Barbosa” (sócio benemérito) -
- A Chapada Cuiabana (tese geográfica) - Cuiabá - 1940
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Cuiabá; 8) Grêmio “Castro Alves” (Presidente honorário) -
Jornalista, colaborador dos jornais editados nesta capital,
Cuiabá; 9) Academia Minerva de Letras (correspondente) -
dirigiu, por mais de vinte anos, o jornal" A CRUZ", da
Belo Horizonte; 10) Academia Pedro II (correspondente) - Rio;
11) Academia Matogrossense de Letras (presidente desde a fundação); 12) Centro de Cultura Intelectual (correspondente) -
Exerceu a magistratura durante 27 anos (1918/1945),
Campinas; 13) Instituto Rio-grandense de Letras (cor-
onze dos quais como Presidente do Tribunal de Justiça do
respondente) - Porto Alegre, 14) Círculo Rio-grandense de
Estado (1930/1940). Fundou, no Tribunal de Justiça, com o
Difusão Literária (correspondente) - Porto Alegre; 15) Grêmio
Des. Palmiro Pimenta, os "Anais Forenses do Estado de Mato
“Rui Barbosa”, (correspondente); 16) Academia Rio-Grandense
de Letras (correspondente) - Porto Alegre; 17) Círculo Amigos
Iniciou, em 1915, com Estêvão de Mendonça, sua
de Marden (correspondente) - Espírito Santo; 18) Grêmio
profissão de advogado e a esta retomou, após aposentadoria na
Literário “Euclides da Cunha” (correspondente) - Muqui - Es-pírito Santo; 19) Academia de Ciências e Letras de São Paulo
(membro efetivo) - São Paulo; 20) Academia Carioca de Letras
Implantou, com outros ilustres mato-grossenses, em
(correspondente) - Rio de Janeiro; 21) Federação das
1919, por ocasião do bicentenário de Cuiabá, o Instituto
Academias de Letras do Brasil; 22) Academia Paraense de
Histórico de Mato Grosso, do qual foi Orador Oficial.
Letras (correspondente) - Belém; 23) Centro de Ciências,
Para alargar os horizontes culturais do Estado, fundou,
Letras e Artes ( correspondente) - Campinas; 24) Instituto
em 22/05/1921, com João Barbosa de Faria e Lamartine
Histórico e Geográfico Brasileiro; 25) Instituto Histórico e
Ferreira Mendes cuja solene instalação se efetivou a 07 de
Geográfico de São Paulo (correspondente) - São Paulo; 26) Casa “Humberto de Campos”, ( correspondente) - Carolina; 27)
setembro de 1922 e que se transformou, a 07 de setembro de
Instituto Genealógico Brasileiro (correspondente) - São Paulo;
1932, em Academia Matogrossense de Letras.
28) Instituto Heráldico Genealógico (correspondente) - São
Sua marcante presença, em maio de 1936, no Rio de
Paulo; 29) Confraternité Universelle Balzacienne ( corres-
Janeiro, no , “Congresso das Associações Literárias”, como
pondente) - Montevidéu; 30) Intercâmbio Cultural (membro
Delegado da Academia Mato-grossense, valeu-lhe a Vice-
efetivo) - Guiratinga; 31) Instituto de Cultura Americana (sócio
Presidência daquele memorável conclave, presidido pelo
honorário) - Tolosa (La Plata) - Argentina; 32) International Institute of American Ideals (membro honorário corres-
Professor Fernando de Magalhães, representante da Academia
pondente) - Los Angeles - Estados Unidos da América; 33)
Grand Prix Humanitaire de Belgique (comendador “Humberto
Foi por indicação de MESQUITA, a pedido de Afonso
de Campos” - Vila Velha - Espírito Santo.”
Costa, Presidente da Academia Carioca de Letras, que aquele
Congresso aprovou a criação da “Federação das Academias de
II - MESQUITA - O paladino das letras e
Letras do Brasil”, em cuja presidência se encontra, hoje, o
incentivador da cultura.
acadêmico Des. Antônio de Arruda, Membro da Academia
JOSÉ DE MESQUITA é o maior literato de Mato
Grosso. Percorreu todos os gêneros literários e nos legou obra
Criou, em 1992, a “Revista do Centro Mato-grossense de
perene, valiosa, extensa e profunda. Figura na galeria dos
Letras”, posteriormente transformada em “Revista da Academia
grandes escritores brasileiros. Romancista, contista, poeta,
historiador e cronista, MESQUITA foi o grande paladino das
Paladino das letras e incentivador da cultura,
MESQUITA era o mais assíduo colaborador da Revista cujos trabalhos de revisão, pessoalmente, executava.
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Durante 40 anos, desde a fundação até o instante
Em São Paulo, no período acadêmico, colaborou na
derradeiro, MESQUITA dirigiu a Academia Mato-grossense de
revista do Centro Acadêmico “Onze de Agosto” e na Revista da
Letras, a ela se dedicando com amor paterno. Daí a razão pela
qual o querido confrade Lenine de Campos Póvoas, referindo-
Em Cuiabá, foi diretor do Jornal “O Povo”, no biênio
se ao nosso Fundador JOSÉ DE MESQUIT A, disse que “ele
1916/1917, colaborou em “O Mato Grosso”, e no “Correio do foi, enquanto viveu, o seu Presidente, coração e alma desta Estado”. Dirigiu “A Cruz”, no período de 1925 a 1953. Fundou
e dirigiu as Revistas da Academia e do Instituto Histórico e
Geográfico de Mato Grosso, bem como os “Anais Forenses do III - MESQUITA - O jornalista:
Manteve, ainda, colaboração nos jornais: “O Estado de
Relata Virgílio Corrêa Filho, em conferência proferida no
Mato Grosso”, a “Cruz” e “Combate”, com uma seção
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro a 26 de julho de
1961, que JOSÉ DE MESQUITA, desde muito cedo começara
Colaborou, também, com publicações de outros Estados:
a escrever para o Jornal “O Comércio” sob o título “Notas
“Revista Ilustração Brasileira”, “Gazeta de Notícias” e “Revista
Paulistas”. Este jornal fora fundado, em 1910, por Estevão de
da Federação das Academias de Letras”.
Mendonça e Amarílio Alves de Almeida. MESQUITA,
Foi membro fundador da Associação de Imprensa de
estudante em São Paulo, na Faculdade de Direito do Largo de
Mato Grosso. Na Sessão Magna “In memorian” do
São Francisco, remetia suas crônicas para Estevão de
Desembargador JOSÉ DE MESQUITA, promovida pela
Mendonça, versando fatos da Paulicéia. A respeito dessas
Academia Matogrossense de Letras, o Acadêmico Gervásio
crônicas, a nossa confreira Vera Randazzo, sucessora de
Leite proferiu, em nome da Associação de Imprensa de Mato
MESQUITA na Cadeira n° 19 da Academia Mato-grossense de
Letras, revela tratar-se de um jovem - apenas 18 anos - que
“Aquele formoso espírito que era a linfa vital desta casa,
escrevia “num estilo primoroso, num português castiço. Quem com os fulgores de sua inteligência de eleição, abriu se desde lia suas crônicas nos idos de 1910 como Estevão de Mendonça, logo, as emoções da criação artística, como poeta, romancista, que lhas pedira, bem poderia prever que não era apenas um cronista, historiador e jornalista e, ao longo de uma vida plena advogado que estava se formando, mas um grande literato, um que se realizou integralmente, na fecundidade de uma pena que grande jornalista que já estava pronto!”
jamais se esgotou, trabalhou devotamente na seara do espírito,
Todavia, JOSÉ DE MESQUITA começara desde muito
num labor que nem mesmo a pobreza da vida provinciana
antes, atividades jornalísticas, publicando seu primeiro trabalho
parada e pasmada, desestimulou ou tragou, na rotina do
no jornal “O Cruzeiro” órgão do Clube Minerva, sob o título
quotidiano que abafa as vocações mais vivas. Jornalista ao longo de meio século, as páginas da nossa
11 de abril de 1907, como referiu o saudoso confrade
imprensa dão testemunho vivo dessa atividade em que
José Adolfo de Lima Avelino, em oração proferida a 05 de
Mesquita era o soldado das horas indormidas nos bastiões de
novembro de 1957, na Academia Mato-rossense de Letras, na
uma fortaleza que jamais se rendeu ao jogo dos interesses
sessão comemorativa do cinquicentenário de jornalismo de
escusos ou no silêncio dos que cedo desertam das agruras de sua missão. Nele, o jornalista viveu dia a dia os esplendores
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de sua missão e as misérias do amargo ofício. Na defesa do seu cultura, ensinava aquelas verdades eternas que não podem ser ideário e nas lutas pelos princípios que sempre defendeu, era obscurecidas mesmo nesta época caótica de derrocadas. Para de uma bravura impressionante. Os poderosos e os que se ele o jornal era uma escola e uma cátedra, não o órgão pretendem poderosos repetidas vezes foram marcados com o verrineiro que, nas suas colunas mofinas, faz da injúria e da ferrete de sua palavra potente e, assim, nesse meio século de calúnia o pão com que os pasquineiros se nutrem mas, o jornal atividades jornalísticas, fez da imprensa uma tribuna onde, que edifica, o jornal que dignifica, o jornal, enfim, que faz da passo a passo, ensinava e doutrinava pregando aos homens de instituição divina da palavra o instrumento ideal de boa vontade e ferreteando os maus e os injustos, conversando, crescimento e seleção do espírito humano. como queria Rui Barbosa, “todas as manhãs para a rua “, na O jornalista que assim prega, que assim edifica, que mesma plenitude de franqueza com que se dirigisse para dentro assim ensina, é aquele que Rui denominou “mestre de de si mesmo, porque no seu espírito levava aquele “incêndio primeiras letras”, “catedrático da democracia em ação”, comunicativo da fé nos princípios” e “a paixão ignescente do “advogado”, “censor”, “familiar” e “magistrado”. E assim foi o confrade ilustre que a morte nos roubou, cujo convívio a Jamais lhe salteou o espírito o comodismo dos seus todos encantava pelas maneiras cavalheirescas, pela interesses pessoais injustificados por aqueles que ele marcava amenidade do trato, pelos requintes da cortesia que faziam com o signo indelével de sua palavra impressiva. Ao contrário, dele um “gentleman” no mais nobre e elevado sentido da vezes sem conta, podíamos vê-lo na serenidade daqueles que lutando pela verdade não sentem as feridas que o fragor da Mestre das letras e da imprensa devemos recordá-lo na luta lhes causam. Nunca cedeu, assim, às artimanhas dos plenitude de sua vida que o destino permitiu que ele realizasse poderosos que não lhe podendo calar a voz calavam fundo os plenamente, e que se eternizasse nos seus filhos os exemplos seus interesses de cidadão e de pai de família. Aí então surgia, que deu a sua terra e aos homens de seu tempo.” formidável, ao lado do jornalista, o jurista e a campanha que encetava ganhava brilho e majestade porque era o homem IV - MESQUITA - O historiador: desarmado lutando, com destemor, pela verdade e pela justiça contra o poder dos poderosos que acabavam impotentes e
Orador Oficial do Instituto Histórico e Geográfico de
destroçados pelo lutador que hoje reverenciamos.
Mato Grosso, coube a JOSÉ DE MESQUITA fazer o elogio
É que Mesquita compreendia o jornal como uma tribuna
histórico de diversas personalidades, tais como: Dr. Antônio
que só podia ser ocupada pelos nobres de espírito. A imprensa
Corrêa da Costa, Arcebispo D. Carlos Luís d' Amour, Modesto
não devia ser o pasquim ou o vazadouro das injúrias
de Melo, General Caetano de Albuquerque, Prorf. João Pedro
atassalhantes e onde os homens que comandam a coisa pública
Gardez, Naturalista Carlos Lindmann, Manuel Amarante e
desnudam-se expondo as suas mazelas, num espetáculo muitas
Otávio Pitaluga, Des. Luís da Costa Ribeiro, Bispo D. Antônio
vezes repugnante. Para ele o jornal era a tribuna da verdade e,
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Conforme assinala Virgílio Correa Filho, na conferência
No dia 10 de março de 1992, ao comemorar o centenário
já citada, proferida a 26/07/61, “a tarefa (de Orador Oficial do
de seu egrégio Fundador, a Academia Matogrossense de Letras
Instituto) exigia-lhe pesquisas, a que se entregou cada vez mais
está lançando a reedição de obras de JOSÉ DE MESQUITA,
acuradamente, conforme evidenciou magnífica série de ensaios
reunindo, num único volume, sob o título “Genealogia
de real valia histórica. Para firmar os fundamentos da
Matogrossense”, as obras anteriormente nominadas “Nobiliário
“Genealogia Cuiabana” considerou diversos ramos - “André Matogrossense” e “Genealogia Cuiabana”.
Gaudie Ley”, “Nobiliário Matogrossense”, “Corrêa da Costa”,
Estes trabalhos de levantamento genealógico dão bem a
“Prados e Figueiredos”, “Alves Corrêa e Moreira Serra”,
dimensão das investigações a que se dedicou MESQUITA, na
“Mesquita Muniz e Pinhos e Azevedo”, títulos em que se
seara da genealogia e da história, no estudo acurado da origem
desdobravam as suas percucientes investigações pelos arquivos
e da formação das tradicionais famílias cuiabanas e mato-
públicos e eclesiásticos, em que tinha fácil acesso, como por
Sob o sugestivo título “Gente e Coisas de Antanho” o
Em biografias separadas, tratou, de “Um homem e uma
Prof. Carlos Rosa fez editar, em 1978, sob o patrocínio da
época”, “Monsenhor Bento Severiano da Luz”, que o Instituto
Prefeitura Municipal de Cuiabá, alguns escritos de JOSÉ DE
Histórico admitiu na classe de sócio correspondente, de João
MESQUITA, publicados inicialmente em jornais cuiabanos e,
Poupino Caldas e Manuel Alves Ribeiro, dois caudilhos de
posteriormente, inseridos em Revistas do Instituto Histórico de
inquieta liderança regional, do Taumaturgo do Sertão (frei José
M. Macerata), que logrou fama de santidade, propagada pelo
Através destes trabalhos, podemos visualizar as pesquisas
realizadas por MESQUITA para esmiuçar as “coisas de
Além dos temas individuais, também versou, com
antanho”, num estilo leve, agradável e com um fino traço de
análoga perspicácia, outros, de ordem geral, como “Grandeza e Decadência da Serra Acima”, “As Necrópoles Cuiabanas”, “Os Jesuítas em Mato Grosso”, “A Chapada Cuiabana” Ensaio de
V - MESQUITA - Romancista, contista, cronista e
Geografia Humana e Econômica oferecido ao “IX Congresso ensaista: Brasileiro de Geografia”, “Gente e coisas de antanho” série de
encantadoras crônicas, a exemplo de Vieira Fazenda, que se
Como romancista, JOSÉ DE MESQUITA nos legou o
estenderam por vários números da Revista.
As suas contribuições, indicadas de espírito pesquisador,
Na visão de Amidicis Tocantins - “Reminiscências -
recomendaram-no à atenção do Instituto Histórico e Geográfico
JOSÉ DE MESQUITA (Polígrafo e homem de bem)”:
Brasileiro, que o acolheu jubilosamente.
Ao tomar posse da cadeira de correspondente em 1939, o
“Na literatura dita de ficção - romance e conto -
discurso que proferiu, acerca de “O Sentimento de Brasilidade ninguém o sobrepujou em nosso Estado, alcançando da na História de Mato Grosso”, evidenciou-lhe não somente os
imprensa indígena e da crítica nacional encomiásticas
anseios do civismo e conhecimento do passado, como ainda os dotes oratórios, cultivados nas tribunas que freqüentava,
referências. Com efeito, foi mestre no romance cuiabano que
principalmente em Cuiabá, do pretório à Academia e ao Instituto.
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é “Piedade” - o primeiro da trilogia “Piedade”, Fé e
Iniciando-se, em 1915, na profissão de advogado, sob
Caridade” que, infelizmente, não se concretizou. - Está repleto
orientação de Estevão de Mendonça, foi posteriormente
do bom provincianismo cuiabano, da sutílima
nomeado Procurador-Geral do Estado de Mato Grosso.
psicologia humana, da alma encantadora das ruas e
Ingressando na magistratura, foi Juiz de Direito da
logradouros da “Cidade Verde”. Alia-se, ali, o pitoresco
Comarca de Registro do Araguaia e, posteriormente,
descritivo da linguagem, técnica hábil, engenhosa, de pessoa
Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado.
que revela alta dose de sentimento artístico na concepção de
Na antiga Faculdade de Direito de Cuiabá (1934/1937),
foi Professor da Cadeira de Direito Constitucional.
Em seus livros de contos “A Cavalhada”, “Espelho de
Quando se aposentou no Tribunal de Justiça (1945),
Almas”, e “No Tempo da Cadeirinha”, nota-se a mesma linha
retomou às lides forenses, tendo sido Procurador da Prefeitura
de encanto estético que manobra através da criação dos vários personagens de virtudes provincianas sob esplêndida
A fase áurea de sua judicatura, exerceu-a no Tribunal de
Justiça, quando proferiu numerosos votos e publicou trabalhos
Grangeou nomeada não só como ficcionista, mas ainda,
jurídicos nos “Anais Forenses do Estado de Mato Grosso”,
como ensaista e biógrafo, autor de livros como “A Chapada
destacando-se como representante de nosso Estado, no
Cuiabana”, “de Lívia a Dona Carmo” (as mulheres na obra de
Congresso Nacional de Direito Judiciário e na Conferência
Machado de Assis, “Um taumaturgo do Sertão”, “Augusto Leverger, o bretão cuiabanizado”, “João Poupino Caldas”,
O saudoso Prof. Nilo Póvoas, referindo-se à formação
“Manuel Alves Ribeiro” e outros trabalhos monográficos.”
jurídica de MESQUITA e ao exercício de sua judicatura,
VI - MESQUITA - Advogado, magistrado, jurista emérito e orador consagrado: “Na complexa individualidade de JOSÉ DE MESQUITA, vários aspectos se nos impõem à consideração. Um deles,
JOSÉ DE MESQUITA conquistou sólida formação
porventura o mais expressivo da sua formação espiritual, foi o
jurídica, na Faculdade de Direito de São Paulo, onde colou grau
seu culto apaixonado das letras jurídicas, a que se entregara
de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, Turma de 1913.
com o fervor de um asceta, levado por instinto puramente
Sua paixão pela profissão de advogado, ele a herdou de
vocacional. Formado pela célebre Faculdade de Direito de São
seu pai José Barnabé de Mesquita (Sênior), que fora advogado
Paulo, que criou e nutriu uma luzida plêiade de eminentes
nos auditórios da Comarca de Cuiabá. O exercício da profissão
juristas, de lá trouxera o jovem bacharelo espírito forrado por
de advogado era uma permanente homenagem à memória de
uma sólida cultura jurídica que lhe permitiu consagrar-se
seu pai, que perdera quando tinha, apenas, cinco meses de
lídimo propugnador da justiça, na aplicação das normas do Direito e conservar, na presidência da mais alta Corte Jurídica do Estado, as gloriosas tradições de austeridade do nosso antigo Tribunal da Relação.
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Como distribuidor de justiça, foi ele de um comportamento exemplaríssimo. Não o movera jamais a paixão o Governador Mário Corrêa, cujos partidários tentavam política que sói, por vezes, arrastar os magistrados a tumultuar as sessões. Numa delas, MESQUITA resolveu iniqüidades, à prevaricação e à desonra. As decisões e as suas suspender o julgamento e requisitar força federal para garantir sentenças, escrevia-as ele com a mão na consciência e os olhos o funcionamento da Justiça, atitude que concorreu para a no Juiz Supremo. Eram-lhe elas ditadas pela razão e baseadas, intervenção federal no Estado, reclamada pelos adversários do invariavelmente, na lei e no direito. Nunca o vimos vacilar no Governador. MESQUITA conseguiu superar com dignidade a cumprimento de seus deveres funcionais. Bem compenetrado se agitação daqueles dias e pode prosseguir no exercício das achava de que na soberania do Poder Judiciário é que reside a funções em que demonstrou notável aptidão para a liderança. força da autoridade civil e que esta soberania se assenta na Acredito que foi com o desempenho dessa presidência e da outra, mais longa ainda, da Academia Mato-grossense de Letras, cujos destinos dirigiu por mais de quarenta anos, que
Em artigo publicado no jornal "Diário de Cuiabá", em
JOSÉ DE MESQUITA aprimorou seus dotes inatos de
20/11/ 1990, o eminente Des. Antônio de Arruda assim se
Orador consagrado, MESQUITA a todos conseguia
“convencer, persuadir e deleitar”
“Em 1937, encontravam-se no Tribunal os Desembargadores JOSÉ DE MESQUITA, Armando de Souza,
O mestre Isaac Póvoas destaca em MESQUITA as suas
Amarílio Novis, Otávio da Cunha Cavalcanti, Palmiro
oratórias, com as seguintes referências:
Pimenta, José Vieira do Amaral, Oscarino Ramos, José Otílio da Gama e Olegário Moreira de Barros. Eram nove “Notável foi sem dúvida alguma a atuação desse Desembargadores, mas esse número foi reduzido a sete pela primoroso homem de letras na arte sublime da oratória. Constituição Estadual, promulgada nesse ano, sendo postos em Dificilmente poder-se-á dizer em que ramo do saber humano disponibilidade os dois mais modernos - Vieira do Amaral e foi ele maior: se como poeta, como jornalista, como orador ou ainda como contista. Em todas as modalidades em que se O Presidente do Tribunal era JOSÉ DEMESQUITA, que manifestem os pensamentos e os sentimentos e da sua erudição. vinha exercendo o cargo desde 1930, tendo sido reeleito nos Na tribuna como na poesia, o nosso saudoso conterrâneo períodos seguintes, até dezembro de 1940. Ocupou assim a começou cedo, visando, naturalmente, atingir cedo à Perfeição. presidência durante onze anos consecutivos e neste ponto só Desde a sua adolescência, o seu nome já figurava como orador perdeu para o Desembargador João Martins França, que foi dos clubes em que a mocidade de sua época ensaiava os seus Presidente do Tribunal durante doze anos, a partir de 1895. No passos vacilantes na senda das letras. Com essa sede de saber, começo de 1937, JOSÉ DE MESQUITA, no exercício da cresceu, frondejou como árvore plantada em terreno fértil. Foi presidência, teve de enfrentar os excessos das paixões que às culminâncias das letras, igualando-se aos melhores. De sua dominavam o ambiente. Acompanhei o julgamento do vastíssima bagagem oratória, destacamos, pela sua merecida rumoroso processo de "impeachment" contra
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“ASCENÇÃO” de Brasilidade na História de Mato Grosso”, discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; “Professoras Íngreme e sinuosa, aspérrima e escarpada, Novas para um Mundo Novo” discurso paraninfal, em Campo Sob o sol flamejante ou entre tormentas duras, Grande; “Nos Jardins de São João Bosco”, discurso e Cheia de abismos maus, que abrem faces escuras, conferências, São Paulo; “O Exército, fator de Brasilidade”, Vai a estrada coleando, em busca da esplanada. Sobes. E na ascenção, entre angústia e torturas, VII - MESQUITA - O Poeta Tons de ira e de despeito, ápodos e assuada, Vês diminuírem mais as coisas na baixada
Seria imperdoável se neste rápido bosquejo sobre a vida e
e se abrirem os céus em mais amplas alturas.
obra de JOSÉ DE MESQUITA não nos detivéssemos na sua
Hás de sempre encontrar luzes pelos caminhos,
A obra poética de MESQUITA foi extensa: “Poesias”,
serpes por sob a relva e, nas rosas, espinhos.
“Terra do Berço”, “Da Epopéia Mato-grossense“, “Poemas do Mas nunca te pareça o teu esforço vão. Guaporé”, “Escada de Jacó”, “Roteiro da Felicidade” e outras
Lá bem alto cintila a estrela da bonança
Poeta de rara sensibilidade, ia do parnasianismo ao
e além, teu coração, mais do que a vista alcança,
modernismo, num permanente culto à mulher e com uma
límpido e claro, o azul da eterna Perfeição.
A respeito da obra poética de MESQUITA, disse a
VIII - A figura humana de JOSÉ DE MESQUITA:
Meu saudoso pai, Virgílio Corrêa de Mello, cujo
“Sobre a mulher, tem tanta delicadeza, tanto respeito ou
centenário de nascimento se comemora a 10 de março de 1992,
tanto amor, que mesmo se às vezes vai além às regiões
e que por cinqüenta anos labutou nas lides forenses, foi
perdidas da alma e busca os frêmitos mais íntimos, o faz de tal
contemporâneo, amigo e admirador de JOSÉ DE MESQUITA
forma que mesmo a sensualidade que se evola dos seus sonetos
por quem nutria a mais profunda veneração.
de amor, não conspurca nunca a imagem feminina, pois é
MESQUITA era um “gentleman”, tal como o descreveu
sempre puro e autêntico amor, é sempre belo na emoção.”
Gervásio Leite. Quando se encontrava com meu pai, sempre
(Discurso de posse, em 10/03/1982)
procurava saber de seus filhos, especialmente do “orador mirim”, da Escola Modelo “Barão de Melgaço”, que é o
Nesta oportunidade, transcrevemos um soneto de
humilde autor deste esboço sobre a vida e obra do grande varão
MESQUITA, que, num concurso promovido pela Revista
mato-grossense. A mim, sempre dirigia MESQUITA palavras
“'Ilustração Brasileira”, figurou entre os dez melhores sonetos
de carinho e de incentivo. Gostava de incentivar os jovens.
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Faço estas referências, porque na Sessão Magna de
JOSÉ DE MESQUITA era nobre nos gestos, nas palavras
inauguração da “Casa Barão de Melgaço”, realizada a 24 de
e na ação. Tranqüilo e sereno, nobre e justo, alegre e afável,
junho de 1931, sob a Presidência de honra de D. Aquino
possuidor de imensa cultura jurídica e literária, MESQUITA
Corrêa, quem mais exultou foi JOSÉ DE MESQUITA, nosso
sabia tratar com a mesma fidalguia, humildes e poderosos.
Presidente perpétuo, que ali foi “o coração e a alma da
Casou-se em primeiras núpcias, em 1915, com D. Anna
Academia” e que dali, cercado do respeito e da veneração do
Jacintha Pereira Leite. O casal teve oito filhos, três dos quais
povo mato-grossense, haveria de partir para a derradeira
Consorciou-se em segundas núpcias com D. Laura
Pereira Leite, em 1942, de quem houve um único filho.
MESQUITA não morreu! Sua vida e sua obra viverão
MESQUITA, católico praticante, amigo, confiante e
eternamente, para exemplo das gerações porvindouras!
aparentado com D. Aquino Corrêa, era profundamente devotado à família.
Apaixonado por sua terra e sua gente, MESQUITA
devotou-se de corpo e alma na tarefa hercúlea de liderar as atividades culturais em Mato Grosso, arrostando todas as dificuldades que as circunstâncias lhe impunham. Venceu todos os obstáculos e conseguiu consolidar as duas grandes instituições que fundou: o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e a Academia Matogrossense de Letras.
Manteve assíduo intercâmbio com as instituições do País
e do Exterior, sem prejuízo das atividades decorrentes do exercício da judicatura ou da profissão de advogado.
A “Casa Barão de Melgaço”, foi doada ao Instituto
Histórico e, ao então Centro Matogrossense de Letras, graças à sua pertinácia na consecução dos ideais a que devotou sua vida (Decreto n° 01, de 23/11/ 1930). A escritura de doação, datada de 15/04/1931, trás as assinaturas de Dom Aquino e de MESQUITA, que representaram as instituições donatárias. O doador, o Estado de Mato Grosso foi representado pelo Interventor Federal, Cel. Antônio Menna Gonçalves.
Pela Lei n° 1.079, de 21 de julho de 1930, o “Centro
Mato-grossense de Letras”, já fora declarado de utilidade pública pelo Dr. Anibal Benício de Toledo, Presidente do Estado.
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Entre as obras publicadas por José de Mesquita,
Poesias: Terra do Berço, Escada de Jacó, Roteiro de O LEGADO DE JOSÉ DE MESQUITA Contos: A Cavalhada, Espelho de Almas (premiado pela
Academia Brasileira de Letras), No Tempo da Cadeirinha.
Antonio de Arruda Ensaios: A Chapada Cuiabana, A Academia Mato-grossense
de Letras, Bibliografia Mato-grossense de Letras, Bibliografia
José Barnabé de Mesquita, ainda jovem e pequeno
Matogrossense (em colaboração com Firmo Rodrigues).
comerciante em Diamantino, resolveu mudar-se para Cuiabá,
Biografias: João Poupino Caldas, Manoel Alves Ribeiro.
em 1880. Em Cuiabá, Mesquita Sênior aperfeiçoou seus
conhecimentos, tornando-se professor de Latim no Liceu
Além de construir uma obra variada e rica, Mesquita foi
Cuiabano e depois advogado provisionado. Liberal, foi
também um grande incentivador da vida cultural e animador
abolicionista e um dos fundadores do Partido Republicano em
fecundo das boas causas. A Academia Matogrossense é um
Mato Grosso. Faleceu prematuramente, em 1892, aos 37 anos
atestado vivo de sua extrema dedicação às coisas do espírito.
Pode-se afirmar que a Academia nasceu em sua própria casa,
Neste mesmo ano, nasceu-lhe o único filho, que lhe
pois nela reuniu um grupo de intelectuais que, em 1921,
herdaria o nome e as qualidades. José de Mesquita foi
assentaram as bases do Centro Mato-grossense de Letras,
realmente digno continuador do pai, seguindo-lhe as mesmas
núcleo da atual instituição. Foi também sócio fundador do
tradições de honradez e de caráter. Foi até além, porque teve
Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (1919) e da
uma vida mais longa e pôde construir uma brilhante carreira e
Federação das Academias de Letras do Brasil, além de ter
colocar-se no primeiro plano da cultura matogrossense.
pertencido, como sócio efetivo ou correspondente, a inúmeras
Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, voltou para
Cuiabá, advogando algum tempo e ingressando depois na
Também, em “A Cruz” que dirigiu por muitos anos, e em
magistratura, que exerceu por 27 anos. Foi Presidente do
outros jornais em que colaborou, Mesquita estimulou vocações
Tribunal de Justiça de Mato Grosso durante onze anos
e encorajou muitas esperanças. Não poucos jovens lhe devem o
consecutivos, o que demonstra seu prestígio perante os colegas.
ingresso na vida literária, pois lhes proporcionou esse primeiro
Desde cedo, Mesquita militou no jornalismo e nas lides
alento sem o qual não teriam ânimo para perseverar no esforço
literárias. Publicou muitos livros e opúsculos e deixou esparsa
em jornais e revistas vasta colaboração. Trata-se de trabalhos
Em entrevista à “Gazeta” de São Paulo, ao perguntar-lhe
que representam mais de 50 anos de laboriosa atividade.
o jornalista o que procurava ser na arte, Mesquita respondeu:
Exemplo raro esse, porque o comum no homem de letras é o
“Um homem do meu tempo, sem escravizar-me às
cansaço precoce, o desencanto e a perda do entusiasmo da
escolas e fugindo ao obsoleto, bem como aos exageros do modernismo, duas deturpações da arte, no tempo, e também ao regionalismo exagerado, deformação da arte, no espaço.”
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Manifestou seu pendor pela poesia, aceitando para ela
Ninguém terá levado tão a sério as obrigações sociais
tudo o que se lhe apresentava como motivo de inspiração e de
como ele sempre o fez. Datas natalícias de amigos, colegas e
beleza, principalmente o lirismo, a seu ver a quintessência
confrades, instantes de alegria e de dor, tudo era motivo para
poética. Quanto à prosa, declarou dedicar-se ao conto, à novela e ao romance, além dos ensaios, história e genealogia. Anotou
suas visitas ou pelo menos para um telegrama cordial. Mesquita
ainda sua preferência pelos temas de introspecção e psicanálise,
foi, sem dúvida, um homem educado ou mais propriamente, um
sobretudo feminina, por considerar a alma da mulher, na sua
beleza e contradições desconcertantes, o melhor campo de
Espírito reto, doíam-lhe as injustiças e violências. Neste
experiência artística. Aliás, neste particular, Mesquita deixou
ponto, era bem um discípulo de Ihering, para quem a defesa do
belíssimo trabalho sobre as mulheres na obra de Machado de
direito constitui dever elementar de todo cidadão. Daí porque
Assis, a que intitulou “De Lívia a Dona Carmo”. Nesta análise
Mesquita arrostou algumas lutas, às vezes com veemência e
da galeria feminina do criador de Capitu, Mesquita revelou também esta sua permanente preocupação literária, qual a de
pertinácia, que lhe valeram não poucos momentos de amargor.
compreender a mulher e fixar-lhe as cambiantes do sentimento.
A alguns estas atitudes afiguravam-se incompatíveis com o
Outro gênero para o qual Mesquita confessou sua atração foi o
homem convictamente religioso que também era. A mais de um
estudo dos costumes, em especial do passado, única realidade
colega ouvi dirigir-se a ele, com certa malícia, perguntando-lhe:
humana, segundo Anatole France. A isso tudo, pode-se
- Mesquita, você perdoa aos seus inimigos?
acrescentar que, cultuando todos os gêneros literários, Mesquita
o fez com rara maestria, deixando-nos modelos insuperáveis na
Sua resposta era invariavelmente a seguinte:
- Perdôo tudo e a todos, mas não esqueço.
Seria muito se o ilustre escritor matogrossense houvesse
sido advogado e magistrado insigne, poeta e escritor dos mais
Parece-me assim que ele, como crente, perdoava aos
admiráveis. No entanto, isso não foi tudo nessa personalidade
inimigos, mas, como homem sensível, soma com as ofensas
multifacetada. De Boileau há belos versos que se podem
recebidas. Tudo isso, porém, não o impedia de ser bom e de
traduzir deste modo: - “Ama a virtude e dela nutre tua alma.
cultivar a generosidade, sentimento que reponta, a cada passo,
Não sejam os versos teu eterno cuidado. Cultiva os amigos, sê homem de fé. Não basta ser encantador num livro: é preciso
em seus livros. Assim cantou ele, por exemplo, no soneto “Ato saber também conversar e viver”.
de Bondade” da “Escada de Jacó”:
É preciso ser bom, mesmo que a vida,
Esses simples e sensatos conceitos Mesquita os adotou.
Arvore má, te negue fruto ou flores.
Dedicado às letras, não desprezava, porém, o mundo e a vida,
Que a ventura ou o infortúnio não decida
antes os envolvia num amplexo sedutor. Aceitando o conselho
Teu rumo, sempre bom, seja o que fores.
de Boileau, era, ao mesmo tempo, encantador nos livros e na
Do mesmo modo, no soneto “Transbordamento” do
sociedade. Sua obra toda, sua poesia, principalmente, está impregnada dessa amorável alegria de viver que caracteriza os
“Roteiro da Felicidade” há estes conceitos:
espíritos sadios e otimistas. Sua palestra cordial, temperada de
Sendo feliz, deves ser bom, porque a ventura
leve humorismo, seduzia e elevava. Por isso, era-lhe fácil
É uma flor, cujo fruto excelente é a Bondade.
grangear e conservar amizades, algumas vindas do tempo de
Quem ditoso se sente, há de a felicidade
sua juventude, outras posteriores, todas consolidadas pelo afeto
Irradiar de si, num halo de doçura.
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vida, o que lhe permitiu realizar seu maravilhoso destino.
Pensamentos análogos vêem-se em outros poemas de sua
Salientou que, mesmo escrevendo em prosa, D. Aquino
lavra. Por isso, um dos momentos mais sugestivos de sua vida
produziu magníficos poemas evocativos, eis que, Poeta acima
foi quando a Academia Matogrossense lhe prestou significativa
de tudo, foi como Poeta que nos transmitiu seu verdadeiro e
homenagem de apreço, em uma sessão a que ele chamou a
autêntico testamento. E concluiu: - “Esse o seu maior título de Festa da Amizade. Coube-me então, como Vice-Presidente em glória, o legado primoroso do seu espírito de escol, e muito
exercício da Casa, coordenar as festividades e pronunciar a
mais do que do espírito, do seu grande e generoso Coração”
respectiva alocução de abertura. Falaram também, na ocasião
os acadêmicos Corsíndio Monteiro da Silva, Gervásio Leite,
Pois José de Mesquita esculpiu também seu legado, em
Francisco Mendes, Rubens de Mendonça e o jornalista Augusto
primeiro lugar em sua própria vida, com a qual nos deixou
Mário Vieira, cada qual analisando um dos aspectos de sua
admiráveis exemplos de correção, hombridade e solidariedade
obra. Respondendo a essa homenagem, dissera então José de
humana, assim como em sua vasta obra que marcou presença
entre o que há de melhor na produção literária mato-grossense.
“Que compensação dadivosa não representa este
momento, a tantas decepções que a vida nos traz, às injustiças e incompreensões, frutos de erros de visão ou de instintos inferiores recalcados, hostilidades cegas ou surdas, pequeninas e gratuitas, em que muita amizade aparente se desfaz, na pedra de toque do interesse ou das baixas emulações: Vai assim a mestra vida, artista inigualável, depurando, no seu laboratório, as amizades, tão diferentes das chamadas “relações” e fazendo sobrenadar as verdadeiras, que não contêm seiva de interesse nem lia de ressentimento. Quão feliz me sinto nesta idade que ainda quero julgar de transição entre a mocidade, que finda, e a maturidade que começa, nó meio de camaradas, de vocês, velhos ou novos amigos, ouvindo-lhes essas palavras de compreensividade e benevolência, com que me confortam e estimulam, para que eu, bendizendo o que fiz, me anime a continuar fazendo o que puder pela nossa cultura e pela nossa terra.”
No belo ensaio a respeito da poesia de D. Aquino Corrêa,
publicado na Revista da Academia Mato-grossense de Letras (volume de 1956), José de Mesquita, após analisar os aspectos fundamentais da poética do Arcebispo, afirmou que este achou na poesia o sentido de sua
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o grande intelectual matogrossense, acadêmico Dr. Lenine
Póvoas, que, na sua magnífica obra HISTORIA DA
CULTURA MATOGROSSENSE, recenseia mais de 30 obras de José de Mesquita, sem contar os inúmeros artigos em
jornais, como A CRUZ, de Cuiabá, de que foi Diretor por 20
longos anos, e em revistas, como as do Instituto Histórico e da
Academia de Letras de sua terra, chamou-o “coração e alma da
Sobressaiu também na Religião. Líder católico, privou da
ESCRITORES MATOGROSSENSES: JOSÉ DE
amizade do Arcebispo Dom Aquino e, pelo seu benemérito trabalho, foi distinguido pelo Papa Pio XI com a Comenda de
MESQUITA
Ex-aluno e amigo dos salesianos, proferiu discursos e
Almir Jorge Bodstein
conferências em festas e comemorações salesianas, que
enfeixou na bela obra NOS JARDINS DE SÃO JOÃO
Nasceu em Cuiabá, no dia 22 de março de 1892, e toda a
intelectualidade matogrossense comemora agora, jubi-
Faleceu em Cuiabá, no dia 22 de junho de 1961.
losamente, o seu centenário de nascimento.
No dia 22 de agosto desse mesmo ano, a Academia Mato-
grossense de Letras e o Instituto Histórico de Mato Grosso, em
Figura exponencial da cultura matogrossense, brilhou em
Sessão Magna, prestaram-lhe solenes homenagens póstumas.
nossas letras como astro de primeira grandeza.
Falaram, então, o Professor Francisco Ferreira Mendes,
Cultivou esplendidamente todos os gêneros literários. Foi
Presidente em exercício da Academia Mato-grossense de
poeta, orador, romancista, contista, ensaísta, epistológrafo,
Letras, que em palavras candentes, abriu a Sessão Magna; o
jornalista, biógrafo, destacou-se nas letras jurídicas e na
acadêmico Nilo Póvoas, Orador Oficial da Academia; O
genealogia, revelando-se em tudo beletrista de escol.
Desembargador Antônio de Arruda, representando o Tribunal
Imensa e preciosa é a sua bagagem literária.
de Justiça; a Senhorinha Odilsa Freitas de Souza, que declamou NOSSA VELHA CASA, soneto de José de Mesquita; o
Seu livro de contos ESPELHO DE ALMAS foi premiado
acadêmico Palmiro Pimenta; o Presidente da Associação de
pela Academia Brasileira de Letras, em 1932.
Foi fundador e Orador Perpétuo do Instituto Histórico de
Mato-grossense, acadêmico Gervásio Leite; o Professor
Mato Grosso, fundado em Cuiabá, em 1919, quando a cidade
Benedito Pinheiro de Campos, Diretor-Redator do jornal A
comemorava o seu bicentenário. Um dos fundadores do Centro
CRUZ, e o Orador Oficial do Instituto Histórico de Mato
Matogrossense de Letras inaugurado no dia 7 de setembro de
A revista da Academia Mato-grossense de Letras dedicou
1921, e, em 1932, transformado na Academia Mato-grossense
um número especial (de 1959-1961) à memória de José de
de Letras. Sócio correspondente do Instituto Histórico e
Mesquita, que apresenta os discursos da Sessão Magna e é rica
Geográfico Brasileiro e destacado membro de diversas outras
Nela, há, do grande intelectual matogrossense Des.
Antônio de I Arruda, além do seu brilhante discurso na Sessão Magna, um artigo comemorativo e correspondência de José de Mesquita.
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No seu discurso, na Sessão Magna, afirmou que Mesquita
“pôde construir ao longo dos anos, extenso edifício espiritual, colocando-se no primeiro plano da cultura matogrossense. Durante cerca de 27 anos foi magistrado no Tribunal de Justiça, que presidiu por 11 anos ininterruptos, deixando marcos indeléveis da sua passagem. Em verdade, José de Mesquita, como homem de letras,foi dos mais fecundos de DISCURSO EM HOMENAGEM PELO Mato Grosso, ombreando-se com um Dom Aquino, um Estevão CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE JOSÉ DE MESQUITA Virgílio Corrêa Filho”. E em termos lapidares analisa a
obra literária de Mesquita e tece comentários à sua edificante
Benedito Pereira do Nascimento
E o Orador Oficial da Academia, Prof> Nilo Póvoas,
Numa época em que, mundialmente, são quebradas as
refere-se a José de Mesquita como “matogrossense insigne que,
tábuas de valores, vive Cuiabá momento tão significativo da
na sua grandeza espiritual, honrou a magistratura, de que foi
ornamento inconfundível; comunicou brilho intenso às letras,
que cultivou com esmero e dedicação insuperável; refulgiu na
Imprensa, fazendo dela o instrumento de aperfeiçoamento e de
No firmamento intelectual e jurídico poucos brilharam
progresso; dignificou o magistério com a sua peregrina cultura
Constitui, entre os maiores, justificado orgulho da
inteligência e da cultura da sua gente, que nele via cintilar, nas
Este é o homem que ficou para nós como um símbolo da
liças judiciárias e literárias, o vigor incomparável do saber.
cultura e da honradez na magistratura que exerceu com
Segundo dados biográficos anotados pelo seu dileto filho,
dignidade e brilhantismo em nosso Estado.
Doutor Fernando de Mesquita, nasceu em 10 de março de 1892,
em Cuiabá, bacharelando-se em Ciências e Letras pelo Liceu
Todos nós nos rejubilamos com a comemoração solene
Salesiano São Gonçalo e Ciências Jurídicas e Sociais, em 1913,
pela Faculdade de Direito de São Paulo, tendo sido orador da turma sob aplausos dos seus colegas.
Na sua longa vida pública, iniciada moço ainda, exerceu
os cargos de Professor de Português da Escola Normal, Procurador Geral do Estado, Diretor da Secretaria do Governo, Juiz de Direito da Comarca do Registro de Araguaia, Professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito de Cuiabá e Desembargador do Colendo Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
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Foi exatamente aqui, na cúpula do órgão colegiado
Amigo diletíssimo do imortal Dom Aquino Correa,
matogrossense, que o eminente Desembargador José de
católico fervoroso que hauria, como diretriz da convivência
Mesquita, demonstrou, com brilho inexcedível, a sua produção
social e participação nos bens da vida, forças na religião e na
intelectual servindo como um sol e estímulo para as futuras
gerações de magistrados e de todos aqueles que se empenham
Reverente, seguia o ensinamento de Starnrnler ''A cultura
pelo império e culto das letras em nossa terra.
é um desenvolvimento no sentido do Justo”.
Exerceu a judicatura com proficiência, seriedade e ânimo
O emérito e saudoso ex-Presidente desta Corte,
inquebrantável, merecendo dos seus pares a admiração e a
Desembargador Gervásio Leite, em lapidar síntese, traduziu os
prestigiosa escolha para desempenhar a Presidência da alta
altos valores que inspiraram a vida e o ideário do
Corte Judiciária por onze anos ininterruptos.
O Des. José de Mesquita, durante a sua brilhante
“Aquele formoso espírito que era a linfa vital desta
trajetória na magistratura, dignificou e honrou a Justiça de
casa, com os fulgores de sua inteligência de eleição,
Mato Grosso com a sua consciência jurídica e o seu saber,
abriu se desde logo, às emoções da criação artística, como
principalmente com a sua envergadura moral.
poeta, romancista, cronista, historiador e jornalista e, ao longo
Criou com o Desembargador Palmiro Pimenta, primeiro
de uma vida plena que se realizou integralmente, na
Presidente do Tribunal Regional Eleitoral, a revista “Anais fecundidade na seara do espírito, num labor que nem mesmo a Forenses do Estado de Mato Grosso”.
pobreza da vida provinciana parada e pasmada, desestimulou
Fundador e Presidente da Academia Matogrossense de
ou tragou, na rotina do quotidiano que abafa as vocações mais
Letras até o seu falecimento. Sócio-fundador e orador oficial do
Instituto Histórico de Mato Grosso. Idealizador da criação da
Jornalista ao longo de meio século, as páginas da nossa
Federação das Academias de Letras do Brasil.
imprensa dão testemunho vivo dessa atividade em que
O centenário de nascimento de José de Mesquita,
Mesquita era o soldado das horas indormidas nos bastidões de
comemorado sob o signo da mais viva expressão cultural, abre
uma fortaleza que jamais se rendeu ao jogo dos interesses
ensejo para se avaliar a peregrina obra legada à posterioridade
escusos ou no silêncio dos que cedo desertam das agruras de
no campo das idéias, nascida na poesia e noutros gêneros
sua missão. Nele, o jornalista viveu dia a dia os esplendores de
manejados com maestria, como dizia Maritain “nas sua missão e as misérias do amargo ofício. Na defesa do seu ideário e nas lutas pelos princípios que sempre defendeu, era
Foi, em essência, um autêntico homem das letras,
de uma bravura impressionante. Os poderosos e os que se
mediante as quais reavivava, sempre, a sua fé em Deus e na
pretendem poderosos repetidas vezes foram marcados com o ferrete de sua palavra potente e, assim, nesse meio século de
A sua vida e obra de homem de letras estão,
atividades jornalísticas, fez da imprensa uma tribuna onde,
indissoluvelmente, ligadas à História épica de Cuiabá,
passo a passo, ensinava e doutrinava pregando aos homens de
sobretudo à energia indômita da raça bandeirante.
boa vontade e ferreteando os maus e os injustos, conversando, como queria Rui Barbosa, “todas as manhãs para a rua” na mesma plenitude de franqueza com que se dirigisse para dentro de si mesmo, porque no seu
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e “magistrado”. E assim foi o confrade ilustre que a morte nos espírito lavrava aquele “incêndio comunicativo da fé nos roubou, cujo convívio a todos encantava pelas maneiras princípios” e “a paixão ignescente do ódio à tirania”. Jamais cavalheiresca, pela amenidade do trato, pelos requintes da lhe salte ou o espírito o comodismo dos seus interesses cortesia que faziam dele um “gentleman” no mais nobre e pessoais injustiçados por aqueles que ele marcava com o signo indelével de sua palavra impressiva. Ao contrário, vezes sem Mestre das letras e da imprensa devemos recordá-lo na conta, podíamos vê-lo na serenidade daqueles que lutando pela plenitude de sua vida que o destino permitiu que ele realizasse verdade não sentem as feridas que o fragor da luta lhes plenamente, e que se eternizasse nos seus filhos os exemplos causam. Nunca cedeu, assim, às artimanhas dos poderosos que que deu a sua terra e aos homens de seu tempo.” não lhe podendo calar a voz calavam fundo os seus interesses
Esta Corte de Justiça, em administração pretérita, e no
de cidadão e de pais de família. Aí então surgia, formidável, ao
Governo do ínclito Dr. Cássio Leite de Barros, como preito de
lado do jornalista, o jurista e a campanha que encetava
reverência ao insigne Juiz e enaltecendo a sua inteligência e cultura jurídica, colocou, por feliz iniciativa do Dr. Luís-
ganhava brilho e majestade porque era o homem desarmado
Phillipe Pereira Leite, Padre Wanir Delfino César e
lutando, com destemor, pela verdade e pela Justiça contra o
Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro -
poder dos poderosos que acabavam impotentes e destroçados
Deocleciano Martins de Oliveira Filho, o seu busto em bronze
pelo lutador que hoje reverenciamos. É que Mesquita
no átrio do Tribunal e, também, instituiu a Medalha
compreendia o jornal como uma tribuna que só podia ser
Desembargador José de Mesquita para galardoar pessoas que
ocupada pelos nobres de espírito. A imprensa não devia ser o
no desempenho da vida pública, por sua obra e serviços, engrandeceram o Poder Judiciário.
pasquim ou vazadouro das injúrias atassalhantes e onde os
De ouvir, em Gente e Coisas de Antanho, o consagrado
homens que comandam a coisa pública desnudam-se expondo
magistrado e professor, Desembargador Antônio de Arruda, ex-
as suas mazelas, num espetáculo muitas vezes repugnante.
Presidente deste Tribunal, ocupou-se da vida de José de
Para ele o jornal era a tribuna da verdade e, encantando com
Mesquita com a galhardia que lhe é habitual e que todos
o brilho de sua cultura, ensinava aquelas verdades eternas que não podem ser obscurecidas mesmo nesta época caótica de “Ocorre-me aqui uma das impressões mais antigas que derrocadas. Para ele o jornal era uma escola e uma cátedra, guardo de José de Mesquita. Foi quando regressei a Cuiabá, não o órgão verrineiro que, nas suas colunas mofinas,faz da em 1937, após o meu curso de Direito, e ia assistir às sessões injúria e da calúnia o pão com que os pasquineiros se nutrem do Tribunal, por ele dirigidas. Naquele tempo, as paixões mas o jornal que prega, o jornal que ensina, o jornal que políticas, exacerbadas pelo processo contra o Governo Mário edifica, o jornal que dignifica, o jornal, enfim, que faz da Correa, tentavam invadir o recinto severo da nossa mais alta instituição divina da palavra o instrumento ideal de Corte de Justiça. Não era fácil opor-se a essa torrente crescimento e seleção do espírito humano. O jornalista que avassaladora, eivada de facciosismo. Mesquita arrostava-se, assim prega, que assim edifica, que assim ensina, é aquele que porém, de ânimo sereno, dominando com dignidade aquele Rui denominou “mestre de primeiras letras”, “catedrático da ambiente agitado. Felizmente, foram raros tais momentos de democracia em ação”, “advogado”, “censor”, “familiar” vibração e intolerância. Em épocas normais, pôde José de Mesquita patentear as suas notáveis aptidões
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para a liderança. Na galeria dos Presidentes do nosso Tribunal, talvez nenhum outro o avantajasse em finura e elegância. Foi o que exerceu por mais tempo desta função, juntamente com o velho Des. João Martins França; cerca de 11
De sentir, igualmente, o que a toga poética, vagando entre
a consciência cristã e a realidade, produziu:
JOSÉ DE MESQUITA - O POETA João Antônio Neto nenhum merecimento, é claro, tem. Somente é bom esse que continua,
Verdadeiramente, os vivos é que partem e nos deixam
mesmo em troca do mal, fazendo o bem.
sozinhos. Os mortos permanecem, e ficam conosco.
E essa verdade é tanto maior, quando se trata daqueles
Não te preocupe o estrépito da rua.
que transcenderam seu destino individual e se projetaram na
Ouve a tua consciência e mais ninguém.
vida e na consciência comum - tecendo a teia inconsútil da
A ingratidão na alma serena atua como incentivo que do céu lhe vem.
Os grandes morrem, vencendo a morte e, como dizia
EXUPÉRY, não são sepultados: são plantados - e, plantados,
Porque, fazer o bem buscando o útil,
criam raízes, brotam, frondejam e continuam dando flores e
é um torpe traficar com a caridade
E há mais: toda presença eminente, que transpõe e anula a
morte, possui uma certa existência física; sentimo-la, tão viva e
Mas fazê-lo ao ingrato e ao desleal,
tão nítida, como se de sua névoa crepuscular continuasse a
isso é glória, é beleza, é heroicidade:
transfixar a sombra, para aquecer os corações esmagados pela
é, como Deus, pagar o bem por mal.”
injúria e insensibilidade do transitório.
Daí, o desafio, na boca do Apóstolo dos Coríntios: “-
EMINENTES PARES, a obra bibliográfica do
Onde está, ó Morte, a tua vitória? “
Desembargador JOSÉ DE MESQUITA, singular, admirável e
fecunda, é rica em vibrações de paz e espiritualidade.
MESQUITA é um desses que se privilegiaram pela
Bendita, pois, a vida que propicia instantes de enlevo e
constância de uma vida feita de ação dirigida para a plenitude -
o aqui, neste encontro matinal, não desejaria vê-lo e conversá-
Bendita a vida exemplar, endurecida pela História e
lo, como aquele que o insuspeito D. AQUINO, na Oração
Fúnebre apontou como o portador “dos dotes que lhe deram a
Bendita a Magistratura que tem perpetuado em bronze
superioridade nas letras mato-grossenses”.
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Não queremos dialogar, por ora, com o jurista, o orador,
Se tens, para abrigar tua alma dolorida,
o historiador, o cronista, o romancista, o contista, o sociólogo.
esse mirante azul da Poesia e do Sonho,
Preferimos, para esta oportunidade, ouvir o grande poeta - o
donde se vê mais bela a paisagem da vida!
lírico dos poemas do Amor, da Natureza, do Sonho e da Arte,
em alguns dos momentos inesquecíveis da poética de Mato
Mas, - a meu parecer - onde o poeta Mesquita alcançou
altitudes mais vastas e penetração mais profunda, foi na dificil
poesia de reflexão filosófica, onde aparece o homem
“O nosso coração anseia e clama
empenhado em abrir veredas à compreensão superior do Bem e
pelo amor, luz do céu na terra acesa,
do Amor - como demanda e fim do homem glorificado.
raio de sol, transverberando a lama,
Primeiramente, mostra que o Bem - apesar dos
sopro de Deus, que anima a natureza.
desconcertos do mundo - é a verdadeira força que leva ao amor
“A vida se condensa no que amamos, “Ressurge, alma dolente e álgida, que sentias seja realidade ou quimera esse amor, a morte dentro em ti: acorda para a Vida. seja um ente real ou sonho que ideamos, Observa, a cada instante, a mutação dos dias. seja um pouco de céu, seja um ninho entre ramos, Foge à acédia letal, com à infrene corrida. seja um rio, uma planta, uma estrela, uma flor. “ Verás, após a noite, as róseas ardentias a celegam doirar, agora enegrecida, “Ouve o rumor que faz a água correr sonora e suceder ao rijo uivar das invernias a casquinhar veloz pela campina a fora; o hino da primavera esplêndida e garrida. sente o olor virginal dos lírios mal abertos. Caduco é o mal. O Bem, somente, eterno dura. Natureza! - Só tu sabes lenir as dores Vive o teu ideal de justiça e bondade, e fazer vicejar todo um moital de flores e, entregue ao teu constante e discreto labor, nos sombrios jardins dos corações desertos. emergirás da treva à luz serena e pura, que, defronte do mal, se converte em piedade, “Ainda hoje acordei muito tristonho e, ao influxo do bem, se transforma em amor. “- antes a realidade fosse um sonho.
Mas, sem Humildade, o Bem cede ao Orgulho, e este não
passa de uma coroa de cera que o menor raio-de-sol pode
Sê forte na bondade e firme na doçura.
derreter. Na Humildade esconde-se a verdadeira grandeza:
Que te importa, a esbater no seu brejal medonho, dos batráquios a multidão refece e escura,
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“Cultiva sempre essa simplicidade, Ouves a voz que te fala, ensurdinante, a sós: que é a flor mais bela que a alma humana ostenta, - Quem crê e ama, não precisa mais de nada. e foge aos ouropéis, com que a vaidade A verdadeira paz está dentro de nós. aos nécios e aos fracos alimenta.
Todavia, não haverá Paz, sem Justiça e Verdade:
“Combater contra o mal é tarefa constante, Singelo, evita em tudo a fatuidade. que a vida nos impõe, nessa dura porfia. A filáucia valor não te acrescenta. Forte, enfrenta o perigo, instante por instante. Sê sempre o mesmo, quer na adversidade, Repouso não terás na peleja bravia. quer na fortuna próspera e opulenta. Prossegue, sem temor, o teu caminho avante. Na vitória final, com certeza, confia, Tal no-lo ensina a própria Natureza embora a luta seja árdua e desconcertante, que no mérito, árdua e rija frágua, quando a perversidade à estultícia se alia. não no tamanho, põe sua grandeza. Não hesites, porém: a Justiça, a Verdade Vazias amplidões enerva o vê-las, hão de sempre vencer no prélio formidando, enquanto a mais humilde poça d'água as fraudes da protérvia e as manhas da maldade. reflete o céu com todas as estrelas.” E da consciência ao fundo hás de sentir, invicto, que o Bem, batido sempre, acaba triunfando,
Da Humildade, chega-se à paz - essa aura divina que
pois no tempo ele é eterno e no espaço, infinito.
alimenta todas as aspirações redentoras:
E todo esse crescendo nos leva, como num retomo
“Imaginas que o Bem ou a Ventura resida
salvífico, ao indefectível valor do mesmo Bem, expresso nesta
no ouro, que te seduz, na glória que te ilude,
jóia de arte poética e filosofia cristã:
e andas a procurar, numa ânsia estulta e rude, “Fazer o bem a quem te retribua, o teu grande ideal nas miragens da vida. nenhum merecimento, é claro, tem. Somente é bom esse que continua, Tem mais calma e beleza a água azul dum açude mesmo em troca do mal, fazendo o bem. do que esses vagalhões de fúria desmedida. Para que tanto afã, nessa doida corrida, Não te preocupe o estrépito da rua. se um rei e um pária não diferem no ataúde? Ouve a tua consciência e mais ninguém. A ingratidão na alma serena atua Vais tão longe buscar o que possúis tão perto como incentivo que do céu lhe vem. e tendo ao teu alcance a sombra perfumada do oásis, prefere palmilhar o agro deserto. Porque, fazer o bem buscando o útil, é um torpe traficar com a caridade e se pagar com a moeda fútil.
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Mas fazê-lo ao ingrato e ao desleal, isso é glória, é beleza, é heroicidade: é, como Deus, pagar o bem por mal.
Como já perceberam os senhores, quis fazer desta visita e
deste reencontro com Mesquita um convívio diferente, de pura
ESTILÍSTICA EM JOSÉ DE MESQUITA
emoção estética, entre tantas pedras frias e flores fanadas, para
que, pelo milagre estranho da poesia, esta mesma hora se
UMA INTRODUÇÃO
despisse de luto e de amargura, para transfigurar-se em Beleza
e Alegria - únicos sentimentos capazes de redimir o peso e as
Benedito Pedro Dorileo
E esse ágape literário com Mesquita deixaria de ter o seu
As palavras assumem no discurso papel importante e
fecho de ouro, se não o encerrássemos com suas próprias
menos importante, outras. Há as principais, representativas da
palavras, traduzi das na "Ascensão", que é um dos mais belos
idéia-núcleo, traduzem a realidade com imagens-sínteses.
cânticos à vida triunfante, que a poesia brasileira tem
Tomemos este trecho literário, com lição antropológica,
produzido. Ascenção é a caminhada definitiva para o alto, para
de José de Mesquita, em Os Primeiros Bacharéis
a comunhão com Deus e as estrelas - para a glória da
Matogrossenses: “Elementos estranhos, sobretudo de origem portuguesa e paulista se haviam radicado na terra a que ora os Íngreme, sinuosa, aspérrima, escarpada, vinculavam laços de sangue, e elos de interesse, constituindo-sob o sol flamejante ou entre tormentas duras, se dest’arte os prógonos de outras tantas famílias poderosas cheia de abismos maus, que abrem fauces escuras, pela riqueza e pelo prestígio social, e o comércio bem que vai a estrada coleando, em busca da esplanada. rotineiro e difícil entra a intensificar-se, multiplicando-se, por outro lado, os engenhos em que a indústria começa a Sobes. E na ascenção, entre angústia e tortura, prosperar sensivelmente” (In Gente e Coisas de Antanho-
trons de ira e de despeito, ápodos e assuada, vês diminuírem mais as coisas na baixada
Achamos os termos principais, reduzindo o grupo
e se abrirem os céus em mais amplas alturas.
fraseológico, em essência, para: Elementos estranhos.
radicados. terra. vinculavam laços sangue e interesse.
Hás de sempre encontrar urzes pelos caminhos,
constituindo-se. prógonos. famílias poderosas. comércio.
serpes por sob a relva e, nas rosas, espinhos,
intensificar-se. multiplicando engenhos. indústria poderosa.
mas nunca te pareça o teu esforço vão.
A operação simplificadora ocorre com o despojamento
dos artigos, adjetivos em parte, preposições, conjunções,
Lá bem no alto cintila a estrela da bonança,
verbos, auxiliar e de ligação, pronomes, advérbios em parte,
e além, teu coração, mais do que a vista, alcança
locução adverbial. Ainda poderíamos chegar à redução para
límpido e claro, o azul da eterna Perfeição. Cuiabá,10/03/92
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São palavras reais ou semantemas e instrumentos
Neste trecho, José de Mesquita, em O Relógio da Catedral,
gramaticais ou morfemas. Sob enfoque rigoroso, pode-se
conversa com a máquina, conferindo-lhe a capacidade de sentir,
concluir que semantemas são os substantivos e os verbos e, por
ver, movimentar, soar, posicionar: “Mas melhor é que assim te
vezes, o advérbio, o pronome, o numeral, conforme o lugar de
conserves, arcaico observador, no silêncio vocal a que te
expressividade que desempenham no discurso. Os morfemas
condena a tua própria natureza, pendulando e soando as horas
são os outros elementos de relação ou de precisão.
e meia-horas, ao sol dos verões e aos luaceiros do inverno,
No cotidiano da vida, a carga de morfemas fica reduzida,
pois se a palavra te fosse dada, talvez muito amargor nos
principalmente, nestas horas de velocidade e de exigüidade de
reservarias no increpar aos cuidados de hoje o seu descaso pela tradição, o seu feitícismo pelas cousas frívolas de hoje, a
Há a situação em que a linguagem telegráfica pode ser
completa transformação moral que se lhe opera
utilizada, com laconismo necessário, economizando tempo,
irremediavelmente no caráter” . (Op. cit. pág. 119). As
espaço e dinheiro. Por exemplo: “Cuiabá cem anos quase
fantasias geradas, aqui, evoluem-se para além do objeto e
Cuiabá hoje”. A esfera de atividade de dinâmica social obriga à
propicia representações que pouca ou nenhuma relação tem
redução, à concisão fundamental; avulta-se a palavra real à
com ele na realidade. Este fenômeno denomina-se de
custa do instrumento gramatical. Em José de Mesquita, na
parafantasia, cuja aplicação literária é conhecida pela
crônica Cuiabá de há um Século, encontramos: “A Cuiabá de
denominação de linguagem figurada. E cientificamente de
cem anos atrás era - relevem-me tão dura verdade - quase a
Sinestesia a estas interpenetrações de vários sentidos, quando o
Cuiabá de hoje”. Falava o literato sobre o período de 1827 a
relógio assume a figuração de pessoa que trabalha, sente,
1927, lapso de total estagnação da vida cuiabana (Op. cit. pág.
observa, censura e produz o despertar ético.
107), Aqui, os morfemas juntaram-se aos semantemas para
oferecer maior elucidação e elegância à construção
O senso estético do literato escolhe os vocábulos mais
adequados ao seu intento, os torneios de frases, a construção
Não se preconiza o estilo telegráfico, mas se sugere a
mais eficiente ao seu objetivo de comunicação de idéias ou de
atenção para a importância dos vocábulos advertindo contra o
sentimentos. É a Sinestesia a sensação pertencente a um sentido
estilo desmesurado, empolado da multiplicação inútil das
que transita para outro por decorrência de sentimentos. Produz
palavras, dispensáveis para a absorção do sentido. Nas suas
crônicas temos encontrado a medida virtuosa do bom estilo,
prevalecendo a sobriedade, com dispensa dos enfeites
Mais uma crônica mesquitiana. No Campanário, em que
gongóricos ou inúteis, como se lê em Beleza Cuiabana:
encontramos: . “subamos ao campanário, em visita aos
“Preiteavam-lhe homenagens, rendidos aos seus amavios de amigos sinos, que bem no-la merecem, pois compartilham de viuvinha juveníssima, as mais importantes figuras do tempo”
nossa vida desinteressadamente, dobraram aos funerais dos
(Op. cit. pág. 117). Os adjetivos caem dosadamente na
nossos maiores, repicaram ao nosso batizado e os dos nossos
elaboração da frase, nem mais, nem menos.
filhos e vão, pela vida afora, nos acompanhando nas mais
As palavras reais salientam-se pela sua força expressiva,
diversas fortunas, nos alti-baixos da existência” (Op. cit. pág.
despertando imagens das coisas, podendo revestir de aspectos
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Bastou a palavra sino para evocar as mais diferentes imagens,
Assim, lemos outra crônica mesquitiana, A missa do
sugerindo o seu som a morte, a vida, o sacramento, a tradição.
Espírito Santo: “Quando o missa cantante galgava, nos seus
Como podem também os sons provocar sensações de cor, dor,
ricos paramentos, os degraus da Capela-mor e aproximava-se do altar todo florido e iluminado, o corpo desferia os seus cantos harmoniosos e as volutas do incenso evolavam-se
O sino, sinestesicamente, pode induzir às imagens de:
lentamente dos turíbulos de prata. E grave, solene, majestosa,
representação sonora, de imagem motriz do movimento,
a missa começava”(Op. cito pág. 125). Vê-se, aqui, o uso dos
imagem visual da forma e tantas imagens de parafantasia.
adjetivos: ricos, florido, iluminado, harmonioso; além da
alocução adjetiva de prata, e ainda do advérbio lentamente, e
O étimo de sinestesia completa o nosso entendimento: “S.
a construção volutas do incenso evolavam-se, que redunda a
Do gr. Synaisthesis, ato de perceber uma coisa ao mesmo
imagem. Deste trecho, aproveitamos para destacar o recurso
tempo que outra, sensação ou percepção simultânea"
estilístico da diferença quantitativa em: “E grave, solene,
(Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, José Pedro
majestosa, a missa começava”. A série destes três adjetivos está
Machado, Ed. 1967, Vol. 111, pág. 2118).
colocado segundo uma ordem lógica, a própria lógica dos
sentimentos: a pompa da celebração eucarística vai-se
E não bastou a escolha das palavras, mas José de
desenvolvendo numa ordem crescente: primeiro, a austeridade
Mesquita procurou a disposição do material lingüístico, tendo
do ato; depois, a magnificência do ato; por fim, a grandeza
em vista as condições da sociedade, a quem dirigia a sua
comunicação. Na mesma crônica vemos novo diálogo sobre o
Contrariamente, encontramos, em A Procissão de São
sino, conferindo-lhe “outras missões” confabulando com ele,
Jorge, outra crônica mesquitiana: “A tropa prestava continência
em produções sinestésicas com apuro de linguagem, dirigida ao
à passagem do General das Milícias Celestes. Era um
estrato social intelectualizado da época: . “velhos sinos espetáculo grandioso e impressionante” (Op. cito pago 128).
amigos, ali no seu plácido campanário, tangendo matinas e
Aqui a ordem lógica está invertida pelo sentimento, de mais
vésperas, dia por dia, noite por noite, na sua tarefa discreta e
para menos da representação imaginárias dos adjetivos. E a
bondosa. São eles que levam para o alto os nossos ais rolando
ordem decrescente: primeiro, a pompa do ato; depois a
em suas vozes - como disse o poeta - e trazem-nos os apelos
impressão do ato. E poderíamos entremear o adjetivo altivo.
misteriosos do Infinito, nessa linguagem evocativa dos seus
Ainda que tal recurso estilístico requeira cuidados sinonímicos
dobres e dos seus repiques” (Op. cito pág. 123).
Em José de Mesquita encontramos a exatitude do termo,
Dessa forma, o que predomina nas ordens crescente ou
a propriedade do uso das palavras, tal como os parnasianos e
decrescente é a intensidade afetiva, carga sentimental dosada
realistas. O emprego excelente dos adjetivos é uma constante,
hierarquicamente, interessando à Estilística.
ainda que em certas passagens ocorra a demasia da
Percebemos as palavras que apresentam aspectos variados
qualificação, porém, ora reforçando o sentido do substantivo,
de uma mesma idéia, a sinonímia gradual empregada; mas é
ora moldando-lhe a diferença de sentido.
natural que cada um dos elementos da série sinonímica sugira, por seu lado, outras palavras com a qual tem ou pode ter afinidades. Ocorre, então, a chamada associação de idéias, que
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expressam diferentes acepções, variantes e matizes de um
brinco, elevação, nobreza, lumbrante, espetaculoso, pom-
mesmo pensamento. Até mesmo idéias antagônicas. Tomemos
apuro, delicadeza, fausto, em- poso, soberbo, radiante, doce,
um trecho mesquitiano em Migalhas para História da Cidade:
belezamento, formo-seamento, suave, suntuoso, excelso,
“'Cidade velha, com um passado cheio de episódios curiosos, de costumes e usanças bastante típicos, a Capital Mato-
Hebe, as Graças, Narciso, digno do pincel de um artista,
grossense daria ensanchas a belos ensaios em que o
deidade, ninfa, fada, serafim, faustoso.
brasileirismo teria muito que lucrar, dada afeição essencialmente nacional do nosso povo, que se explica aliás pela sua posição isolada no centro quase geométrico do continente” , (Op. cit. pág. 133). Temos o adjetivo belos (sing.
belo) e isolada (masc. isolado), grifados no texto. A face oposta
de belo é feio, e de isolado pode ser acompanhado. Assim, a
Substantivos: Fealdade, Adjetivos: feio, como
maneira mais prática de buscar o sentido da palavra é
encontrar-lhe o antônimo. Dessa forma, o princípio da Analogia
desprimor, inelegância, des- in-gracioso, simiesco,
é considerar, em primeiro lugar, numa palavra o seu termo
antagônico; e depois, todos os termos que se lhe ligam por
hediondez, horribilidade, as- des-favorecido, desprimoroso,
Façamos duas colunas, a primeira contém as palavras
graçado, desaire, desengonço, sombra, façanhudo, contra-
relacionadas diretamente com a idéia; a segunda, as acepções
cara feia, carantonha, corão, feito, pesado, desdentado,
carranca, caranchona, cara- anodonte, capribarbudo, car-
mono, aleijão, especto, sapo, rancudo, trombudo, focin-
mico, monstro, monstrengo, hudo, pesudo, narigudo,
Substantivos: Beleza, Adjetivos: lindo, bonito,
po, Quasímodo, jacodes, jan- vatricoso, de fero aspecto,
espantalho, estupor, bazu- rebarbativo, encarontonhado,
laque, figura de pano arrás, horrendo, medúsio, acha-
perfeição, mimo, louçania, digno de se ver, escultural,
feanchão, dentuça, hipopó- parrado, inartístico, des-
tamo, madrigáz, ma-cho da ornado, desaprimorado, gros-
liteira, chichimeco, ur-so, seiro, deforme, lúgubre, me-
pomposição, um não sei quê, senhoril, grácil, guapo, bem
esplendor, fulgência, gran- de formas suaves, brilhante,
deza, sublimidade, celsitude, esplêndido, excelente, mag-
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ISOLAMENTO
“In casu” valemo-nos do Dicionário Analógico da Língua
Portuguesa (idéias afins), Ed. 1974, de Francisco dos Santos
Substantivos: Adjetivos: uno, um,
Se atentarmos bem, concluiremos que o substantivo
pouco difere do adjetivo; em resumo, são dois aspectos de uma
mesma lingüística. A própria origem do nome tem mais de
incomunicabilidade, solidão, singular, individual,
adjetivo do que de substantivo. Investigando lingüisticamente,
orfandade, abandono, dis- personalíssimo,
vemos que, ao princípio, todos os seres foram designados por
junção, indivíduo, um só, uma desacompanhado, distinto,
uma qualidade fundamental, que os caracterizava. E usual é
única voz, nenhum outro, desamparado, abandonado,
tomar o adjetivo pelo substantivo. Vejamos em Os Planos de
sentinela, insulador, dielétrico. emtregue aos seus próprios
Magessi, crônica mesquitiana:. “naquele meio da Cuiabá colonial dos começos do século XIX, onde já havia uma sociedade, com foros de fidalguia, ricos mercadores, gente que se dava por fina e de boa linhagem, escandalizada ante a sencerimônica do governador, que se permitia ajudar o fabrico do sabão por economia doméstica” (Op. cito pago 173). A
língua de cunho impressionista faz avultar a qualidade
ACOMPANHAMENTO
sencerimônica, um neologismo, acima do objeto, faz da
qualidade o próprio objeto. O adjetivo vê-se substantivado. O
Substantivos: adjunto, Adjetivos:
substantivo vai muitas vezes empregado como adjetivo:
também este serve não raro como substantivo, tanto na
linguagem comum, como na literária. Este princípio tem
apreciáveis aplicações na Estilística.
coabitação, inse-parabilidade, emparceirados, juntos, inse-
Observo, por fim, nesta despretensiosa análise, que o
gênero prosa de José de Mesquita, quando muito dele nos
lembramos neste ano centenário do seu nascimento, provoca
sempre doce estesia, uma sensação permanente de beleza
estética, pela inteligente escolha dos elementos na propriedade
e na disposição sonora das palavras, da sua combinação na
frase e da disposição artística dos acentos, dos conceitos novos
que evoca na produção suave da linguagem figurada. O seu
gosto literário expressa o temperamento do homem culto e
Se assim é feito para todas as coisas fundamentais que
religioso. A imagem de José de Mesquita não está senescente,
possam suscitar outras idéias, e, por conseguinte, outras formas
mas atual em nossas recordações literárias e do nosso espírito.
de expressão, teremos chegado ao Dicionário Analógico. Vê-se
a importância, para o escritor e para o estilista, desta pesquisa.
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Pouco tempo depois, os Mesquitas, mudam-se para Cuiabá,
devido principalmente a então decadência de Diamantino.
Emprega-se o jovem chefe de família, numa casa comercial,
onde pela sua capacidade logo chega a guarda-livros. Além de
sustentar decentemente os seus, estuda com afinco e dotado de
HOMENAGEM A JOSÉ DE MESQUITA
invulgar inteligência, habilita-se e conquista o cargo de
advogado provisionado da Comarca de Cuiabá.
Vera Randazzo
Progredindo, exerce vários cargos como Auditor de
Guerra, ainda no tempo do Império e professor de Latim no
SENHORAS E SENHORES! : Quisera ter uma parcela
Liceu Cuiabano e já na República foi diretor da Tipografia
da sabedoria rutilante do luminoso e ínclito vulto que me coube
Oficial. Político liberal, foi jornalista e era ardente
homenagear, no dia do centenário de seu nascimento!
abolicionista. Casou-se com D. Maria de Cerqueira Caldas em
Quisera ter verbo inflamado de um poeta condoreiro, para
1891 e um ano depois, com apenas 37 anos faleceu, deixando
tecer as loas de uma figura ímpar no cenário das letras e da
ao seu único filho de apenas cinco meses, além de seu próprio
nome, uma herança prenhe de exemplos dignificantes, tanto de
Quisera. oh, quanto eu quisera, traduzir com a magia de
palavras altissonantes, minha admiração pelo grande gênio
É patrono da cadeira n° 27 desta Academia, hoje ocupada
pelo ilustre historiador Ubaldo Monteiro da Silva.
No entanto, se não tenho os dons de um Aquino Corrêa,
Alguns anos mais tarde, a jovem viúva uniu-se em
ou as vozes de um Cícero, será com a alegria de minha
segundas núpcias, ao comendador Antônio Tomaz de Aquino
pequenez que vou exaltar o fundador desta Academia Mato-
Corrêa, viúvo de D. Maria de Aleluia Gaudie Ley, mãe do
grossense de Letras, da qual foi o Presidente por 40 anos, sendo
imortal e brilhante Príncipe da Igreja de Mato Grosso, que
também o titular de cadeira n° 19, cujo patrono é o também
governou e pacificou nosso Estado de 1918 a 1922, e que é
imortal Couto de Magalhães, cadeira que hoje, modestamente
também luminar das letras mato-grossense de renome
José de Mesquita que nasceu no dia 10 de março de 1892
O menino José encontraria no seio do novo lar muito
e cujo centânio de vida completa-se nesta noite de gala em
carinho e dedicação, embora continuasse sendo o enlevo das
meio às emoções de todos nós, era filho do diamantinense e seu
três tias paternas, duas das quais morreriam solteiras e
homônimo José Barnabé de Mesquita e de D. Maria de
centenárias na casa do querido sobrinho.
Cerqueira Caldas, sendo neto pelo lado paterno do Capitão
Estudou no Liceu Salesiano São Gonçalo e completou
Barnabé de Mesquita Muniz e de D. Maria Rita de Mesquita. O
seu curso de Ciência e Letras que corresponde, hoje, a 2° Grau,
capitão morreu muito cedo, deixando ao filho ainda
em 1907, o que fazia sua tia Dadá dizer, feliz: “- Quinze anos e
adolescente, a sagrada tarefa de cuidar de mãe viúva e três
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Viaja então o jovem estudante para São Paulo,
“É preciso deixar de vez esses hábitos e acostumarmos a
ingressando na famosa Faculdade de Direito do Largo São
ver nas convicções dos outros, o direito de existir que não
Francisco, onde teria como colega, dentre outros Menotti Del
queremos negado as nossas convicções. Quando andou por
Picchia que seria o autor de “Juca Mulato”, “As Máscaras”, e
aqui, Anatóle France, falou-se muito em protesto, em
outros belos poemas e de quem seria amigo por toda a vida.
manifestações contra a estada e visita do velho literato da
Inicia, então, José de Mesquita, sua carreira literária,
simpática nação francesa. Agora com George Clemanceau.
mandando para o Jornal “O Comércio” de Cuiabá, sob a
Felizmente esses protestos não têm eco fora de casa. Ao
direção de Estevão de Mendonça, deliciosas crônicas,
contrário, fariam péssima recomendação aos nossos costumes
intituladas “Notas Paulistas” e é interessante ver a São Paulo do
nacionais, à nossa apregoada hospitalidade”.
inverno de 1910 com os olhos do moço cuiabano de 18 anos:
Numa crônica fala sobre a recepção e João do Rio, na
“Por vezes, se a noite eu me ponho a perambular
Em outra, rejubila-se com a queda da monarquia em
ociosamente pelas ruas e praças desertas, minha imaginação
Portugal e quando Olavo Bilac esteve no Teatro Santana, José
me faz ver, passando sob a garoa, embuçado numa longa capa romântica, o vulto de Alvares de Azevedo ou Castro Alves, ou “ . . . o poeta discorreu adoravelmente, encaloradamente qualquer outra alma como a deles que andou a amar e sonhar sobre as mulheres de Shakespeare, entremeando a conferência nesta paulicéia formosa. É então que São Paulo me aparece de trechos do grande bardo inglês, traduzidos por ele mesmo como sempre imaginei: a grande e tradicional Cidade em admiráveis versos e ao sair cada expectador trouxe, como Universitária, cheia de dia, de estudantes que não estudam, e, eu, trechos encantadores de frases, beleza figuras e mais belas de noite, de românticos sonhadores que passeiam o seu amor e idéias, inda a lhes cantar no ouvido, como a magia inefável de as suas tristezas sob a garoa que desce suavemente do alto..”
Pensando nas moças e senhoras daqui conta algo sobre a
Em junho, acha sem graça as festas juninas de São Paulo,
atribuindo o fato ao temperamento retraído, mais familiar que
social que caracterizava o paulista. Aí, então, a saudade aparece
“Sob os abafados trajes de lã, enluvadas e de ricos chapéus, vejo passar famílias para o cinema. Os chapéus de inverno são em forma de um turbante mourisco, e sobre certos “Entre nós, nessas boas terras de Mato Grosso, e rostinhos são de um efeito encantador”. principalmente em Cuiabá, as festas de São João, como todas as festas populares, têm outro atrativo. As nossas noites de São
Mas dá também, o nosso estudante de Direito, noticias
João, com as fogueiras, as sortes, os jogos de prenda e as
das personalidades estrangeiras que visitam o Brasil e faz
danças, são noites que fazem a gente, no meio desta vida
comentários quanto às idéias dos visitantes e certas
prosaica, acreditar por um momento na existência da Poesia”.
E termina, cheio de melancolia, desejando que:
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Nasceram-lhes oito filhos, três falecidos na primeira
“Deus queira que a civilização custe muito a penetrar em
infância, mas criaram Guy, Amadeu, Maria Amélia, Maria de
Mato Grosso, e que possamos, ainda, ver por mais de 50 anos o São João festejado com fogueiras e cantigas suaves que se
Perdendo sua dedicada esposa em 1942, desposou três
perdem na doçura da noite límpida e estrelada, quando começa
anos depois sua cunhada Laura Pereira Leite, reconstituindo
novamente, um lar feliz onde nasceria José Carlos, o que o faria
Em 1913, com apenas vinte e um anos, conclui o Curso
dedicar à esposa o soneto “Maternidade” do qual extraímos
de Ciências Jurídicas e Sociais, sendo ele, o jovem cuiabano,
neto do Capitão Mesquita de Diamantino, escolhido pelos seus
dotes excepcionais, para ser o orador da turma.
“Faltava a tua meiga formosura,
Quando muito jovem, José de Mesquita, aproximou-se da
doutrina do filósofo francês, Ernesto Renan e de outros livres-
O que à mulher completa e transfigura,
pensadores, afastando-se da religião de seus maiores, causando
certo constrangimento à sua família profundamente católica.
E, hoje, ao ver-te a feição mais doce e pura,
Mas este afastamento foi breve, causado pela juventude, em
geral contestadora, tanto que alguns anos mais tarde, diria no
Teu filho ao colo, a mim se me afigura
seu magnífico soneto intitulado “Jesus”:
Que atinges, a integral maturidade.” “O mundo quis viver sem ti e viu que a vida, sem a Tua
JOSÉ DE MESQUITA (que não gostava do Barnabé)
iniciou sua vida profissional, como professor de Português da
É uma gleba maninha, estéril, ressequida. “
Escola Normal, nomeado pelo Dr. Costa Marques em 1914.
Pede exoneração no ano seguinte, pois é nomeado Procurador
Em 1915, recebe como esposa Ana Jacinta, de dezessete
anos, filha do Desembargador João Carlos Pereira Leite e de D.
Jovem, formado em faculdade de renome, conhecido e
admirado pelo que escrevia para a imprensa cuiabana. José de
Foi um casamento e ao relembrá-lo diria no ocaso de
Mesquita é cotejado e convidado para os mais altos cargos,
principalmente por sua idoneidade moral, mas submete-se a
concurso público para o Tribunal de Relação (hoje, Tribunal de
“Encontrei a mulher que me servia. Amorosa, fiel, meiga
Justiça) e sendo aprovado é nomeado em abril de 1920, com
e, sobretudo, pura, virgem de corpo e alma. Desfrutei o amor
Juiz de Direito da Comarca de Araguaia. Diria mais tarde:
em todas as suas modalidades, em toda plenitude. Se morresse ao cabo de uns dias de casado, poderia “Araguaia, saudosa estância que marca para mim, o dizer: Gozei a vida em toda a sua essência, do amor o capitulo início de minha carreira judiciária, e s impressões desse período jamais se me apagarão da mente”!
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Foi professor de Direito Constitucional da Antiga
Como Presidente desta Academia Mato-grossense de
Faculdade Direito de Cuiabá e Desembargador do Tribunal de
Letras e orador perpétuo do Instituto Histórico de Mato Grosso
Justiça, do qual foi Presidente de 1930 a 1940.
do qual foi também Membro Fundador em 1918.
Disse dele, o Desembargador Antônio de Arruda, seu
José de Mesquita falou sobre esta Casa Barão de
insigne colega na Magistratura, nas Letras e também membro
Melgaço, em 1930, quando foi doado pelo Governo do Estado,
para todo o sempre nela funcionar estas duas, sem dúvida, mais
importantes entidades culturais de Mato-Grosso:
“Era de ver, por exemplo, o orgulho com que se referia à sua profissão de advogado - não por ela em si, mas porque o “Mais nobre, mais coerente finalidade lhe não poderia ligava ao genitor que também o fora. Ingressando na ser dada. Que lhe seja, pois, doravante, o seio fagueiro da magistratura, fez dela parte mais fecunda de sua carreira, e intelectualidade patrícia, o remanso sereno onde, ao abrigo suponho que das maiores satisfações que teve foi quando um das procelas que se agitam no torvelim das paixões, possam dos filhos e um genro o acompanharam neste setor, e ao saber expandir-se em fecunda atividade criadora, os pendores estar o caçula recém-formado preparando-se para seguir-lhe humanitários da ciência e as puras elocubrações do sonho! “
Como não tive a felicidade de conhecer tão extraordinária
JOSÉ DE MESQUITA passou quatro décadas de sua
personalidade que foi José de Mesquita e ocupando hoje a
vida, fazendo pesquisas em arquivos públicos e eclesiásticos,
cadeira que foi dele, nesta Academia Mato-grossense de Letras,
decifrando cartas régias e documentos coloniais, estudando
procuro ansiosamente conhecê-lo através de depoimentos dos
processos criminais, inventários ou sesmarias, lendo as
que tiveram a ventura de privar de sua intimidade ou foram
memórias das viagens setecentistas ou relatórios provinciais,
seus contemporâneos. Procuro também, conhecê-lo através de
folheando velhíssimos livros de batismo do registro de
seus artigos publicados em jornais ou revistas, ler suas
necrópoles, de onde desencava fatos históricos esquecidos e
biografias de vultos históricos, seus estudos genealógicos,
personagens ainda estudantes de vida, para reuní-los sob a
discursos, poemas, seus contos e romances, alguns difíceis de
epígrafe “Gente e Coisas de Antanho”. Publicados inicialmente
serem encontrados, outros ainda inéditos, pois vasta, variada e
em jornais cuiabanos e depois nas revistas da Academia Mato-
fecunda foi a obra deixada por este escritor invulgar, grande
grossense de Letras e do Instituto Histórico de Mato Grosso, no
período de 1925 a 1954, foram reeditados pela Prefeitura da
Mas é também como pessoa que José de Mesquita me
Capital em 1985, quando era prefeito, o agora Deputado
fascina. Foi um homem especial e novamente busco em
Federal, Dr. Manoel Antônio Rodrigues Palma, sob a
Antônio de Arruda dados para traçar-lhe o perfil:
coordenação do historiador Carlos Rosa.
Nestas exaustivas excursões aos poeirentos alfarrábios,
“Ninguém levaria como ele tão sério as obrigações
levantou a origem das principais famílias daqui e a dos
sociais; datas natalícias de amigos, colegas e confrades,
aristocráticos barões e seus descendentes, deixando para a
momentos de alegria e de dor, tudo era motivo para as suas
posteridade, as sempre consultadas obras, Genealogia Cuiabana
expansões oportunas e cordiais. “
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Grande orador; seus discursos são relembrados como
verdadeiras peças literárias de valor imperecível, como o que
“Na Canção da Inquieta Procura”:
disse em Campo Grande ao paraninfar uma turma de
normalistas. Publicado em 1940, esse discurso de José de
Mesquita, poderia ter sido repetido neste último domingo, Dia
E quando eu vim de todas essas distâncias
Internacional da Mulher, dia que há 50 anos não era
comemorado. Lerei apenas dois parágrafos:
dos longes do Passado, dos combates ásperos com monstros, feras, dragões e gnomos, “O século XX é o século da Mulher. Nunca gozou de vendo-me vencedor de todas as batalhas, maiores prerrogativas e, por isso mesmo, nunca lhe pesaram Bandeirante, Cavalheiro, Herói, Marujo ou Cruzado. sobre os ombros mais árduas responsabilidades. As conquistas feministas valem, sem dúvida, pela aquisição de maiores Não olhaste as pedras, o ouro, as láureas e os troféus. direitos, mas importa, paralelamente, no investimento de mais Num gesto manso e bom, suave e enternecido, “O homem sempre se outorgou, egoisticamente todos os direitos, dando à mulher, na comunhão do lar, tão somente as
AVALIAÇÃO: Exercícios de Recuperação COMP. CURRICULAR: QUÍMICA SÉRIE: 3 EM PROFESSOR: Flávio VALOR: 2,0 NOTA: 1. O ácido acetil salicílico de fórmula: um analgésico de diversos nomes comerciais (AAS, Aspirina, Buferin e outros), apresenta cadeia carbônica: a) acíclica, heterogênea, saturada, ramificada b) mista, heterogênea, insaturada, aromática c) mist
Leishmania Leishmania is een ziekte, die voorkomt in het Mediterrane gebied. Het is een soort parasiet, die zich nestelt in de witte bloedcellen. Hij kan jaren aanwezig zijn, zonder dat de hond klachten heeft. Dat betekent dat een hond drager kan zijn, maar de ziekte hoeft zich niet te ontwikkelen. Het wordt overgebracht door de zandvlieg, een kleine steekmug die tussen zonsondergang en