Transtorno do Pânico e Neurose de Angústia
(Tese de Mestrado em Psiquiatria 1993 FMUSP)
Apenas a observação clínica não nos permite formular
noradrenérgica e serotoninérgica. A contribuição dos
uma teoria abrangente e satisfatória do Transtorno do
achados neuroanatômicos e dos modelos animais cor-
Pânico, cuja manifestação preponderante é a ansieda-
roboram várias evidências das hipóteses citadas, sem
de. O autor inicialmente revisa os conceitos de ansie-
no entanto permitir uma opção segura. A revisão suge-
dade e angústia, a evolução natural e epidemiologia.
re a necessidade de se chegar a modelos mais comple-
Fica evidente sua confusão inicialmente com os qua-
xos que correlacionem todos os dados positivos obti-
dros clínicos sistêmicos de fadiga e posteriormente com
dos até hoje. A revisão do modelo psicanalítico centra-
os Transtornos Afetivos. A identificação e isolamento
se no modelo Freudiano de Neurose de Angústia, pelo
dessa entidade nosológica feita pôr Fruem em 1895 só
pioneirismo e pela maior articulação possibilitada pela
é confirmada - em outras bases teóricas - em 1980 pela
sua obra como um todo. Ressalta a importância da di-
DSM III. A seguir é feita uma revisão dos principais mo-
nâmica do funcionamento psíquico na gênese de esta-
delos biológicos, especialmente das hipóteses
dos ansiosos, especialmente na falência cos mecanis-
mos de defesa de um Ego frágil e pouco estruturado
síndrome já fornecem algumas bases para teorias
como desses pacientes. São apresentados seis casos
fisiopatológicas. As pesquisas indicam que as porções
clínicos que tentam mostrar a variedade de manifesta-
cerebrais mais intimamente ligadas ao medo, à ansie-
ções dos aspectos biológico e psicológico quando vis-
dade a ao pânico são os chamados sistema cerebral
tos à luz da experiência clínica Na discussão o autor
tenta levantar a contraposição mais evidente entre osdois modelos gerais apresentados, qual seja, experiên-
Decorrentes da investigação desses sistemas são as
cia x estrutura. São feitas críticas aos dois modelos no
hipóteses patogênicas do Transtorno do Pânico:
que diz respeito às suas inconsistências e a seguir sãoapresentados modelos alternativos ou integrativos que
que ressalta a hiperatividade noradrenérgica na base
tentam superar os impasses que uma análise mais cui-
dadosa provoca. Como conclusão é apontada a impor-tância , em termos clínicos, de se atentar para os dois
que indica a hipersensibilidade dos receptores de
aspectos aparentemente opostos - biológico e psicoló-
serotonina. Ao lado dessas cabe ainda ressaltar as con-
gico - que se mostram apenas formas diferentes de ver
tribuições dos trabalhos em lactato, ioimbina, clonidina,
CO2 , de tratamentos farmacológicos e ode s dadosneuroanatômicos.
A Neurose de Angústia foi descrita por Freud em 1895
em texto que chama a atenção para um quadro especí-fico de neurose, diferente da Neurastenia, com a qualteria sido até então confundida e cujo sintoma principal
O Transtorno do Pânico foi descrito tal com hoje se en-
seria a angústia. Em torno desta se agrupariam todos
tende, pelo Manual de Diagnóstico e Estatística das
os outros sintomas. A detalhada descrição que Freud
Doenças Mentais - DSM III - da Associação Americana
nos faz desse recém isolado tipo de neurose é quase
de Psiquiatria em 1980. Compreende uma série de
totalmente superponível à usada hoje no DSM III.
manifestações somáticas autonômicas e psicológicas.
As investigações do substrato neurobiológico dessa
De grande importância é a análise dos fatores etiológicos
implicados nos dois conceitos e sua fundamentaçãoepistemológica, i. e., quais suas evidências explicativas. Parece mais ou menos claro que todas as atuais pes-quisas biológicas envolvendo o Transtorno do Pânicocaminham no sentido de apontar uma ou várias altera-ções cerebrais, seja a nível bioquímico deneurotransmissores , seja a nível de receptores ou defuncionamento mais global de sistemas cerebrais.
A Neurose de Angústia, conceito freudiano, teria suaetiologia na má ou não utilização da energia da libido,que assim se transformaria em angústia, seja de formadireta - como supõe Freud em 1895 - seja como conse-
qüência da falência dos mecanismos de defesa do apa-relho psíquico, como teorizou posteriormente.
A mera observação clínica não nos fornece elementossuficientes para construir uma hipótese teóricaabrangente. Os dados experimentais e a contraposiçãode diferentes teorias são de inestimável valor.
O objetivo dessa dissertação é discutir a contraposiçãobiológico-psicológica por muitos vista entre o conceitode transtorno do Pânico tal como é visto hoje e o con-ceito de Neurose de Angústia formulado por Freud em1895, com especial enfoque nos aspectos clínicos.
objeto), que gera um estado de expectativa e de incer-teza. O medo se refere a um objeto determinado, tidopelo sujeito como perigoso e ameaçador.
LOPES IBOR (1950) faz uma extensa revisão sobre as
diferenças entre angústia e ansiedade, ressaltando ocaráter estático, até mesmo paralisador, a sensação deopressão principalmente pré-cordial, mas visceral deuma forma geral, da primeira em contraposição à ten-dência ao movimento e à predominância de manifesta-
ções psíquicas na segunda . Sugere que se classifiquemos quadros cuja manifestação predominante seja an-gústia ou a ansiedade sob o nome de Timopatia Ansio-
Inicialmente seria importante comentar a existência ou
sa, ressaltando sua pertinência ao grupo dos transtor-
não de diferença conceitual entre ansiedade e angús-
nos da afetividade, de origem endógena.
tia, talvez entre angústia e medo. As três palavras exis-tem tanto em português quanto em alemão, inglês e
LEWIS (1979) apresentou uma detalhada revisão do uso
francês. Se bem que existam palavras diferentes para
do termo ansiedade em Psicopatologia, ressaltando
ansiedade e angústia para as quatro línguas, elas po-
possíveis diferenças conceituais com o termo angús-
dem, e são , usadas muitas vezes como sinônimas. O
tia. De forma geral o termo ansiedade era usado na lite-
termo angústia tem origem no latim e tende a ressaltar
ratura européia para se referir a um estado afetivo crô-
um estado de vivência corporal e psíquica de estreite-
nico, desagradável, muitas vezes ligado à melancolia
za, de aperto, enquanto ansiedade conotaria um esta-
involutiva, caracterizado por um certo grau de antecipa-
do de inquietação e de manifestações fisiológicas as-
ção do futuro e de inquietação. Por outro lado o termo
sociadas .Nos dois casos o objeto é a realidade externa
angústia se referia a uma sensação mais visceral, que
como um todo, uma vivência e não um objeto isolado e
tendia a ocorrer de uma forma aguda e muitas vezes
materializado (e por isso não parece procedente a colo-
aproximada ao medo. No final do trabalho sugere uma
cação corriqueira de que a angústia é um medo sem
lista de seis características que poderiam ser usadas
como critério diagnóstico de ansiedade: 1. um estado
Tendo como base a preponderância de sintomas nos
emocional com a qualidade subjetiva do medo ou de
sistemas cardiocirculatório e pulmonar, surgiu em 1864
emoções próximas como o terror, o alarme, o pânico;
a "exaustão muscular do coração" de Hartshorne e em
2. uma emoção desagradável; 3. dirigida ao futuro; 4.
1871 o "coração irritável" de Da Costa, ou Síndrome de
não existe uma ameaça real reconhecível, ou a emo-
Da Costa como ficou conhecida. Com a Primeira Guer-
ção evocada pela ameaça real é desproporcional; 5. há
ra Mundial a atenção voltada para esses quadros foi
desconforto corporal subjetivo durante o período de
centrada tanto nas manifestações cardíacas como no
ansiedade; 6. há transtornos corporais manifestos e
papel desempenhado pelo esforço físico. Surgiram a
"anestesia neurocirculatória" de Robey (1918) e deOppenheimer (1918), a "síndrome de esforço" e o cora-
Para efeito do presente trabalho e tendo em vista que os
ção de soldado" de Lewis (1919), e a "neurose cardía-
autores de diferentes línguas e orientações teóricas quan-
ca" de Schnur (1939) ( apud MARKS e LADER (1973)).
do se referem aos Transtornos Ansiosos usam tanto an-
Mas não foi de imediato que essa profusão de síndromes
gústia como ansiedade, estas serão usadas como sinô-
foi relacionada ao conceito de Neurose de Angústia, que
nimas. Talvez fique implícito na escolha ora de uma, ora
havia sido introduzido por Freud em 1895, quando iso-
de outra, a que orientação ou nacionalidade do autor o
lou essa entidade da Neurastenia, descrita em 1869 pelo
presente texto se refere. (os autores de língua inglesa
usam quase exclusivamente ansiedade - anxiety - enquan-to os franceses usam - angoisse -; em português os psi-
Desde então foram surgindo vários trabalhos sobre os
canalistas freudianos tendem a usar angústia, enquanto
chamados estados ansiosos, ou neuroses ansiosas, no
os kleinianos preferem ansiedade; a literatura biológica,
sentido de se estabelecerem mecanismos fisiopatoló-
na sua maioria em língua inglesa usa ansiedade.)
gicos, fatores predisponentes e tratamento.
MARKS e LADER (1973) fazem uma distinção entre an-
Os autores ingleses, contrariando a tendência européia
siedade estado - aquela sentida no momento - e ansie-
de considerar de forma unitária os Transtornos da Ansi-
dade traço - correspondente a uma tendência habitual.
edade como Neurose de Angústia, sem valorizar as cri-
Vários nomes foram dados no último século para esta-
ses agudas (ataques de pânico), dirigiram seus estudos
à tentativa de isolar os estados ansiosos em entidades
nosológicas passíveis de classificação e subdivisão.
1895 permanece atual, quase inalterada se comparada
Lewis considerava os Transtornos Afetivos subdividi-
com os critérios modernos: 1. irritabilidade geral; 2. es-
dos em três grandes grupos, entre eles o que incluía a
pera ansiosa; 3. surgimento abrupto de angústia, em
depressão agitada aos estados ansiosos. Estudos pos-
forma de crise não associada a qualquer idéia, ou asso-
teriores permitiram separar as Neuroses de Angústia e
ciada a idéia de morte ou loucura eminente; 4. vários
Fóbica dos Transtornos Depressivos, até a
ou alguns de uma lista de sintomas que inclui entre ou-
individualização por MARKS (1969) dos Estados Fóbicos.
tros: palpitações, desconforto pré-cordial, sudorese, tre-
Outra grande contribuição à individualidade do concei-
mores, vertigens, diarréias, parestesias etc; 5. pavor
to de Transtorno do Pânico foi a dos trabalhos de KLEIN,
noturno, acompanhado de angústia, dispnéia e sudorese
que demonstraram a eficácia da imipramina nesses
(crises noturnas de angústia); 6. vertigem ou tontura; 7.
fobias (incluindo agorafobia); 8. náuseas e mal estar; 9. parestesias; 10. os sintomas podem se manifestar de
Em 1980 a Associação Psiquiátrica Americana publicou
forma crônica, com menor intensidade de angústia que
sua terceira versão do Manual de Diagnóstico e Estatís-
nas formas agudas. Normalmente atingem sua intensi-
tica das Doenças Mentais - a DSM III - que trazia como
dade máxima em segundos ou minutos, regredindo
entidade isolada e bem definida quanto a critério diag-
normalmente em até 10 minutos. Geralmente os paci-
entes descrevem um estado pós crise de intensa fra-queza, principalmente nos membros inferiores e sono-lência, sendo que muitos podem dormir até horas apósas crises.
I. B. Quadro clínico e evolução natural
LELLIOT e col . (1989) chamam a atenção para o fatode que os pacientes descrevem a primeira crise comgrande vivacidade e detalhes. Costumam recordar o dia
O Transtorno do Pânico, ou Neurose de Angústia, é ca-
e o que faziam no momento da crise. Via de regra esta-
racterizado pela eclosão de crises espontâneas de an-
vam numa atividade inócua quando foram repentina-
siedade, de início de súbito, acompanhadas de uma
mente surpreendidos pelos sintomas. Cerca de 30%
série de sintomas somáticos. A descrição de Freud de
desses pacientes buscaram um serviço médico nas
cam desconforto físico e psíquico no sujeito que entãoos evita. Na sua maioria é secundário a crises sucessi-
Se não tratadas adequadamente as crises tendem a se
repetir, alternando períodos de normalidade, ou perma-necendo uma ansiedade residual entre as crises. Mui-
Sem tratamento a evolução é variável, com flutuações
tos medicamentos são medicados com tranqüilizantes
de intensidade, com aumento de mortalidade por suicí-
tipo benzodiazepínicos, que aliviam a ansiedade entre
dio e afecções cadiovasculares, se bem que normal-
as crises, mas só uma pequena porcentagem dos paci-
mente não apresentam ideação suicida nem prevalência
entes melhoram a crise em si. Como conseqüência al-
maior de doenças cardíacas. Isso talvez se dê por um
guns indivíduos desenvolvem abuso de tranqüilizantes
maior risco para depressão e pelas repercussões cardí-
ou mesmo de álcool como visto em nosso meio por
acas da via sedentária que adotam uma vez iniciado o
Outros pacientes prosseguem tendo crises a intervalos
UHDE e col. (1985) estudaram 32 pacientes com Trans-
aleatórios, de maior ou menor intensidade - e até crises
torno do Pânico, diagnosticados pelo Research
parciais, desenvolvendo ansiedade antecipatória entre
Diagnostic Criteria (RDC). Também encontraram incidên-
as crises, que perpetua algumas manifestações
cia aleatória das crises, sem possibilidades de predi-
somáticas, servindo como base para um comportamen-
ção, seguidas de cansaço. Os distúrbios psicosensoriais
to de esquiva fóbica. Associam algumas situações com
foram mais comuns em ataques de pânico que em
o desenvolvimento das crises e passam a evitá-las, ou
momentos eutímicos de indivíduos com Depressão
só se expõem a elas com um "companheiro de fobia"
Maior e a personalidade não teve qualquer influência
que serve para assegurar lhes assegurar socorro. As
situações comumente evitadas são as que dificultam oacesso a ajuda no caso de uma crise , como aglomera-
A agorafobia estava presente em 84% dos pacientes com
ções, lugares fechados como teatros, trânsito, etc. O
Pânico e mais de 90% apresentavam ansiedade de grau
termo agorafobia é utilizado, no DSM III, para se referir a
patológico ou esquiva fóbica com início após as crises
um quadro estável de esquiva tanto de ambientes am-
de pânico. Cerca de 50% deles tiveram elo menos um
plos e abertos, quanto de lugares fechados, que provo-
episódio depressivo, revelando a maior susceptibilida-
de às doenças afetivas, muitas de caráter
divíduos são importantes usuários dos serviços de saú-
endogenomorfo, exceto pela ausência de retardo
de, muitas vezes fazendo uso de drogas psicotrópicas,
psicomotor e ideação suicida. Os eventos vitais rele-
mostrando a relevância do estudo de tais quadros.
vantes estavam presentes em 80% dos casos, nos 6meses que antecederam o início das crises de pânico.
Mesmo antes de uma certa uniformização dos critérios
KLEIN (1963) já havia ressaltado a ocorrência de even-
diagnósticos dos Transtornos Ansiosos, os cinco estu-
tos extressantes precedendo o aparecimento do qua-
dos populacionais realizados entre 1943 e 1966, revis-
dro, principalmente de separações e de luto, sugerindo
tos por MARKS e LADER (1973), revelavam uma surpre-
que pelo menos um subgrupo desses pacientes teria
endente uniformidade de índices de prevalência , que
tido um período de intensa ansiedade de separação na
variaram entre 2,0 e 4,7%. Também concordavam no
infância, que serviria de base para o desenvolvimento
que dizia respeito a maior incidência em mulheres, cer-
futuro do quadro de ataques de pânico.
ca de 72%, e quanto ao início preferencial entre os 16 eos 40 anos de idade.
WEISMANN e MERIKANGAS (1988) e HUMBLE (1987) res-saltaram a grande utilização que esses pacientes fazem
de serviços de saúde , apesar de uma pequena parcelareceber tratamento adequado para a doença. MARKS e
Os transtornos da ansiedade são comuns na popula-
LADER (1973) já haviam indicado que 27% dos pacien-
ção adulta, atingindo prevalências anuais de até 8%.
tes que procuravam serviços médicos em Londres o
Apresentam-se de forma heterogênea, com evidências
faziam por transtornos psiquiátricos , 10 a 14% dos paci-
de envolverem algum tipo de herança familiar, ao lado
entes cardiológicos apresentavam algum transtorno
de fatores ambientais. Ocorrem nas mais diversas po-
ansioso e 8% dos pacientes ambulatoriais do Maudsley
pulações, mas as mulheres, os indivíduos mais jovens
Hospital, em um período de acompanhamento de 9 anos
e de maior nível educacional parecem mais susceptí-
, eram portadores de Transtornos Ansiosos, excluídos
veis, se bem que, se bem que nenhum fator sociocultural
predisponente específico tenha sido isolado. Mesmo sem
HUMBLE (1987) e WEISMANN e MERIKANGAS (1988)
receber tratamento específico na sua maioria, esses in-
apresentaram uma revisão dos estudos populacionaisque utilizaram o RDC e o DSM III para estudar aprevalência do Transtorno do Pânico e Agorafobia, nosEstados Unidos, Zurique, Munique e na Ilha coreana deKangwha. A prevalência em 6 meses para o Transtornodo Pânico foi de 0,6 - 1,5%, com predominância de mu-lheres e de indivíduos divorciados e separados. Para aAgorafobia a prevalência foi de 2,3% - 5,8%. Contrarian-do o modelo mais aceito para a Agorafobia, em queesta costuma ser considerada secundária aos ataquesde pânico, a Agorafobia sem ataques de pânico não foirara em New Haven e Zurique. Considerando asprevalências de vida toda, foi encontrado 10 - 20% para
os Transtornos Ansiosos como um todo e 3 - 8% para oTranstorno do Pânico. Os estudos genéticos indicaramum risco próximo de 25% para Transtorno do Pânico emparentes de 1° grau e uma concordância de 31% paragêmeos monozigóticos.
Estes dados revelam a importância, do ponto de vistade organização de serviços de saúde, desses quadrosresponsáveis por boa parte da demanda de serviçosespecializados, provavelmente com grandes repercus-sões econômicas.
De forma menos sistemática incluímos nessa discus-são as idéias de Melanie Klein e de outros autores. Ateorização kleiniana da evolução do funcionamento
mental centra-se no que chamou de Posições(Esquizoparanóide e Depressiva), estruturas essas ca-
racterizadas por tipos específicos de Angústia (Angús-tia persecutória, depressiva), o que torna a abordagemda Neurose da Angústia, desde uma leitura kleiniana,
uma revisão de toda a teoria a teoria de Melanie Klein. Abordar em profundidade outras visões como as de Bione dos pós-freudianos seria sem dúvida interessante, mas
Falar do conceito psicanalítico de Neurose da Angústia
extenso, fugindo ao objetivo dessa dissertação. No en-
significa não só descrever a evolução teórica dessa
tanto muito dessas visões será discutido nos itens rela-
entidade em si, mas principalmente discutir a evolução
tivos a Desenvolvimentos posteriores e Terapêutica.
do conceito de Angústia e de sua função psíquica nodesenvolvimento da teoria psicanalítica.
Nesse capítulo optamos por fazer referência preferenci-
almente ao modelo freudiano da Neurose de Angústia.
Uma ou outra referência, no entanto, será ocasional-mente feita a outras teorias. Foi Freud o responsávelpela delimitação dessa entidade clínica, descrevendo-a
quanto ao aspecto sintomatológico e pela discussão ,ao longo da sua obra, da sua "etiopatogenia". A história
Desde os modelos manuscritos de 1892, 1893 e 1894
da Neurose da Angústia na teoria psicanalítica se con-
Freud vinha se preocupando com a origem da Angústia
funde em vários momentos com a história do papel da
e sua relação com a libido. Em 1895 publicou um artigo
Angústia no psiquismo e no desenvolvimento da teoria
de interesse nosológico em que trata de justificar a se-
paração de um determinado quadro de sintomas - a
Neurose de Angústia - em que o preponderante é a an-
simbolização, que determina que a única forma possí-
gústia, seja ela crônica ou em acessos agudos, do qua-
vel de descarga seja a angústia. Não haveria, portanto,
dro da Neurastenia, descrita por Beard em 1869. Outra
excesso de libido - entendida como o elemento psíqui-
importante distinção é feita entre Neurose de Angústia
co (fantasias) ligado à atividade sexual, mas escassez.
e Histeria de Angústia - ou seja, a Fobia propriamentedita - uma vez que os sintomas fóbicos são muito fre-qüentes na primeira. Convém salientar que enquantotratou de vários casos de Histeria - que dariam origem
II . 1 . A . Neuroses atuais x Psiconeuroses
ao texto escrito em conjunto com Breuer, vinha tendosua atenção chamada também para determinados qua-
Da preocupação nosológica manifestada por Freud nes-
dros neuróticos que pareciam não apresentar mecanis-
se artigo de 1895 - e em outros de 1892, 1893 e 1894 -
mo psíquico de formação de sintomas - a que chamou
começa a ficar evidente uma série de diferenças entre
as Neuroses Atuais e as Psiconeuroses.
O termo Neurose Atual se referia por um lado a uma
Em primeiro lugar as Neuroses Atuais teriam como cau-
causa etiológica recente e atuante, e por outro, a uma
sa etiológica um conflito presente , de caráter sexual. A
situação em que o sintoma não constituía uma repre-
energia sexual não descarregada adequadamente so-
sentação simbólica de um conflito psíquico subjacente.
freria um processo de extase no coro e posteriormente
De acordo com o modelo energético (ou econômico)
no interior do aparelho psíquico. Teria, consequen-te-
que Freud utilizava na época, haveria na Neurose de
mente, que buscar uma outra forma de descarga. Este
Angústia, um aumento da quantidade de energia no in-
conflito sexual provocaria uma excitação somática que
terior do aparelho psíquico que se traduziria diretamen-
não encontrando uma via de expressão simbólica e ,
te em Angústia, seja na sua forma de "excitabilidade
portanto, de elaboração psíquica, só poderia descarre-
geral" e "expectativa ansiosa", seja por "acessos de
gar de tal forma que o sintoma formado teria que ser
Angústia". Como diz LAPLANCHE (1980), se por um lado
somático, resultado de transformação direta e um dos
o que é patológico é um excesso - o excesso de ener-
pontos problemáticos dessa fase de teorização pois
gia sexual que fica acumulada - por outro trata-se de
Freud não chega a propor de forma clara como isso se
uma falta - é a falta de elaboração psíquica, de
daria, permanecendo sem mecanismo identificável.
O surgimento da Angústia se dá pela não elaboração
bolizados. Dessa forma seus sintomas como um todo ,
psíquica dessa quantidade de energia. O conceito de
inclusive os somáticos, como encontramos na Histeria,
elaboração diz respeito à "ligação" dessa energia a de-
são verdadeiros compromissos, possuem um vínculo
terminadas representações e dessas entre si, forman-
simbólico que pode ser desvendado no processo psi-
do um sistema de significações. A Angústia seria o re-
canalítico e sua elaboração psíquica reorientada em di-
sultado de um desligamento, ou seja, o nível menos
reção à "cura" dos sintomas.
organizado desse processo de elaboração. Alguns au-tores como LAPLANCHE (1988) consideram que a An-
No entanto mesmo Freud postulou desde o início a exis-
gústia "é o afeto menos elaborado e mais próximo da
tência de correspondências entre as Neuroses Atuais e
descarga energética pura, mas também é ,todavia, sus-
as Psiconeuroses. A analogia entre conversão histérica
cetível de uma certa elaboração". Elaboração essa de
( do afeto isolado do conflito psíquico reprimido) em sin-
qualquer forma muito distante da elaboração dada na
toma somático e a angústia na Neurose de Angústia,
gênese dos sintomas das Psiconeuroses. Isto fez com
resultado da libido acumulada que não encontrou via
que Freud considerasse os sintomas da Neurose da
de elaboração psíquica, foi por ele ressaltada em vári-
Angústia, bem como das demais Neuroses Atuais, não
passíveis de resolução pelo método psicanalítico, já quefalta ao sintoma somático desses quadros qualquer vín-
Indo um pouco além, admite-se a existência de um ele-
mento atual na deflagração de qualquer neurose, fatojá exposto por Freud em 1912 no artigo "Sobre as cau-
Nas Psiconeuroses, por outro lado, o conflito sexual é
sas eventuais das neuroses". A questão teórica se co-
passado, remonta à infância e às primeiras relações do
loca quanto à possibilidade de um conflito der puramente
sujeito. Os fatores atuais envolvidos no seu
atual. O papel desse elemento atual será diferente de
desencadeamento constituem apenas substitutos des-
acordo com a possibilidade de atingir um nível de mai-
se conflito passado, representando-os simbolicamente
or ou menor simbolização. Frente às Neuroses Atuais
ou dando-lhes significado a posteriori. Trata-se, portan-
Freud não se perguntou porque o evento atual
to de um conflito situado a nível psíquico e não exterior
deflagrador da neurose foi tão conflitivo para o sujeito,
à neurose , como nas Neuroses Atuais. Isto significa
nem em que tipo de estrutura mais ampla o quadro sur-
que seus elementos já se encontram intensamente sim-
giu, ou como a estrutura e a Neurose Atual se relacio-
nam, agravando ou modificando os sintomas. Por aí se
formas de manter essa constância seria a ligação da
encontra hoje uma tendência a diminuir as distinções
energia a uma série de representações relacionadas
feitas entre Neuroses Atuais e Psiconeuroses. Essa apa-
rente contraposição pode na verdade indicar a existên-cia de elementos estruturais complementares na gêne-
Na neurose de Angústia a êxtase da energia sexual
se de qualquer neurose. Isso se evidencia em particu-
provocada pelo conflito presente não consegue se
lar nas ocasiões em que o problema atual atinge tal in-
desfazer pelo caminho da elaboração - ou seja, da sua
tensidade que provoca alterações irreversíveis na vida
ligação a um grupo de representações - por motivos
do indivíduo, ou em terapia, aquilo que se chama acting
que Freud não desenvolve e que atribui em vários mo-
out, quer dizer, a atuação feita com a intenção de criar
mentos a uma causa orgânica. Só pode então ser
descarregada de maneira não simbólica, na forma maisou menos constante de Angústia. Sua manifestaçãopode ser isoladamente crônica - a espera ansiosa - ou
aguda - os acessos de Angústia - ou se manifestar na
forma de seus equivalentes como vertigens e diarréias.
Entre 1895 e 1900 Freud desenvolve o que ficaria co-
Nas Psiconeuroses esse energia encontra-se desde o
nhecido como sua primeira teoria da Angústia, de cará-
início ligada a um grupo determinado de representa-
ter eminentemente econômico. Por econômico quer
ções. O desenvolvimento da Angústia seria então pro-
dizer que existiria um tipo de energia (de caráter sexual)
vocado pela repressão (mecanismo de separação da
que circula no interior do aparelho psíquico que seria
libido da representação considerada incompatível com
responsável pelos processos mentais. Esta energia pre-
o ego, com o conseqüente isolamento da representa-
cisa estar ligada, na sua maior parte, a representações
ção em um "grupo psíquico separado" - o inconsciente
psíquicas, de tal forma a não provocar grandes aumen-
- e o surgimento de um montante de energia livre que
tos de energia livre no interior do aparelho psíquico. Todo
precisa ser descarregada). Nos casos das Psico-neu-
aumento de energia seria percebido como desprazer e
roses essa energia será transformada em sintoma:
a reação natural seria de por em marcha uma série de
somático, pela conversão histérica; obsessivo, por seu
processos que permitissem uma descarga. Uma das
deslocamento para uma representação inócua; fóbico,
por sua ligação a um objeto externo; ou mesmo em
grau de elaboração psíquica. Surge a idéia de uma an-
Angústia caso os mecanismos anteriores não atinjam
gústia defensiva, sinalizadora da existência de um peri-
A evolução teórica que se delimita com relação à pri-meira teoria da Angústia diz respeito por um lado à no-
ção mais estruturada de Ego como o "local" da Angús-tia, e por outro lado da distinção de "modalidades" de
Na Conferência XXV das Lições Introdutórias de Psica-
Angústia: uma Angústia Real (ante um perigo real), uma
nálise de 1917 se dá a transição entre a primeira e a
Angústia defensiva, sinalizadora de perigo e uma an-
segunda teorias da Angústia em Freud. Uma das preo-
gústia neurótica ou flutuante, disponível para aderir-se
cupações nesse momento é definir alguns dos termos
a qualquer conteúdo adequado e formar as diversas
normalmente usados como Angústia, Medo e Susto, de
formas de sintomas. Essas idéias serão desenvolvidas
tal forma a garantir à Angústia um lugar especial na teo-
por Freud, até sua sistematização final no que se cha-
ria do funcionamento psíquico. Em primeiro lugar a an-
ma de segunda teoria da Angústia, principalmente em
gústia se afirma, em termos freudianos como estado
1924 em Inibição, Sintoma e Angústia.
afetivo puro, que pode prescindir do objeto. Na verda-de trata-se de uma situação em que se abstrai o objeto;um estado psíquico em que o essencial é a expectativado perigo e uma certa preparação para ele, mesmo que
II . 3 . A angústia - sinal x Angústia - asintoma
desconhecido. Nas fobias ocorreria uma "solda" da an-gústia do objeto, aproximando-se da noção do medo. O
Cabe salientar que Inibição, Sintoma e Angústia, 1926,
susto seria a descarga abrupta como efeito de um peri-
é um texto posterior à segunda tópica, ou seja à
go não antecipado pela angústia. Traz a idéia, em ter-
reformulação teórica sobre as relações entre as instân-
mos econômicos, de transbordamento, de algo que não
cias psíquicas de uma oposição Consciente-
pode ser simbolizado, nem preparado pela expectativa
Preconsciente/Inconsciente, para um jogo de interações
do perigo. Nesse sentido se entende porque
entre Ego, Id e Superego. O papel defensivo da Angús-
LAPLANCHE (1980) diz que na angústia já há um certo
tia, que já estava de certa forma desenvolvido no texto
de 1917, com base na Angústia Real e na reação de
energia libinal não ligada a representações e, portanto,
fuga, será agora ressituado com relação aos mecanis-
sem elaboração psíquica adequada.
O papel da repressão na gênese da Angústia passou
O Ego tornou-se não só a sede da percepção da Angús-
por uma importante mudança teórica. Na primeira teo-
tia, mas também o seu produtor. Toda angústia, dirá
ria repressão e defesa eram em grande medida sinôni-
Freud, é Angústia do Ego. Frente à eminência do
mos e só com a evolução da teoria a primeira passa a
surgimento de um desejo reprimido do Id que tenta ga-
ser uma das modalidades da segunda. Dessa forma a
nhar acesso à consciência, ou seja, frente à percepção
Angústia era provocada pela repressão, no sentido de
da Pulsão - que constitui um perigo interno - pelo Ego,
que era liberado o afeto da representação tornada in-
esse reproduz uma Angústia já vivida (segundo o mo-
consciente nesse processo, sem que recebesse elabo-
delo da experiência do nascimento) na forma reduzida
ração psíquica adequada. Na segunda teoria a experi-
de um sinal - a Angústia - sinal - que põe em marcha os
ência do nascimento e a repressão primária estão res-
pectivamente na base da" rememoração" da Angústiaenquanto Angústia-sinal e na instauração do aparelho
Ao contrário da Angústia - sinal, "reminiscência" de uma
psíquico enquanto divisão Id ( o Reprimido, Pulsional) e
experiência primitiva, e que subjaz a todo e qualquer
Ego. A Angústia como manifestação sintomática,
mecanismo de defesa, a Angústia como sintoma só
fenomenológica, será o resultado de uma falha dos me-
surge quando esses mecanismos tornam-se incapazes
canismos de defesa e do processo de elaboração psíqui-
ca, tendo como conseqüência o surgimento de um mon-tante de energia "livre", isto é, a Angústia como sintoma.
A repressão promove o desligamento do afeto das suasrepresentações, que são topicamente deslocadas parao Inconsciente, enquanto o afeto torna-se reduzido a
II . 4 . Histeria de angústia ou neurose fóbicaI
um mínimo - energia pura - que circula alternando suasduas manifestações possíveis libido/angústia. O desen-
As fobias são, primeiramente, sintomas que podem
volvimento da angústia significaria, então, a irrupção da
surgir no curso de qualquer afecção psíquica. A fobia
Pulsão no Ego, com o conseqüente extravasamento de
como sintoma é definida por uma forma de ligação en-
tre a angústia e o objeto. Talvez a discussão mais rele-
II . 5 . Desenvolvimentos posteriores da teoria da angústia
vante aqui seja a respeito da distinção entre as fobiasda Neurose de Angústia e as fobias da Neurose fóbica.
Apesar de haver uma tendência quase ubíqua em consi-derar que a catexia (ou energia) que se encontra aumen-
É fato relativamente comum encontrarem-se manifesta-
tada no desenvolvimento da angústia é de origem libinal
ções fóbicas na Neurose de Angústia, fato assinalado
(e já vimos a diferença no que diz respeito às Neuroses
por Freud desde 1894. O que as caracteriza, no entanto,
Atuais e às Psiconeuroses) - e isto é corroborado em
é o fato dessas fobias representarem uma ligação, sem
vários textos pelo próprio Freud - , em "Inibição, Sintoma
significado simbólico, da Angústia flutuante, ou neuróti-
e Angústia"(1926) deixa claro que considera que, frente
ca, desses quadros a um objeto não essencial, normal-
a uma situação de perigo, mesmo que corretamente
mente representado por perigos comuns como a escuri-
avaliada pelo sujeito, existe um montante de angústia
dão, as tempestades, o estar só etc. Aqui se insere a
instintiva que é adicionada. Para ele isso se dá pela bus-
Agorafobia, tão freqüente em sujeitos acometidos de
ca de satisfação de pulsões masoquistas. A reação de-
Neurose de Angústia. Como diz GIUDICELLI (1983), "ela
fensiva do Ego se dá, portanto, contra a pulsão de des-
é angústia pura que surge com o fracasso da esquiva, é
angústia de um espaço vivido".
Esta concepção nova de angústia automática parcial-
Na Neurose Fóbica, ao contrário, as Fobias constituem
mente ligada à pulsão de morte (pois é disso que se
verdadeiramente uma formação de compromisso, no
trata quando se fala de pulsão de destruição) coloca, na
sentido de que sua análise pode nos levar ao conflito
visão de DE BIANCHEDI e col. (1988), a teoria da angús-
subjacente. O afeto desligado da sua representação ori-
tia de Freud próxima à postura teórica de Melanie Klein.
ginal reprimida ameaça emergir sob forma de Angústia.
Freud não relaciona de forma explícita sua teoria da
Isto põe em marcha o mecanismo de deslocamento que
angústia à teoria da pulsão de morte, mas o que se
transfere o afeto a um objeto externo - ou falsa conexão
pode depreender de textos como "Inibição, Sintoma e
- que não só justifique o medo expresso elo sujeito -
Angústia"1926, "Além do Princípio do Prazer"1920, e "O
mesmo que irracional - mas que também represente,
Problema Econômico do Masoquismo"1924 é que o sim-
de forma simbólica, o conflito e a representação incons-
ples aumento da libido não é em si um problema para o
aparelho psíquico. O que é central é que a sua impossi-
bilidade de descarga - seja quando já se acha simboli-
uma falha de simbolização e, portanto, de reencontro
zada, seja quando a descarga não ocorre por falta de
de objeto, que teria permitido o desenvolvimento nor-
elaboração - leva a ausência de descarga também do
mal da sexualidade adulta, mantendo-se basicamente
componente fanático. Aí sim residiria seu poder
uma relação narcísica. Nestes sujeitos a repressão ten-
de a provocar mais inibições que sintomas , principal-mente nas relações genitais, normalmente
Neste mesmo sentido podemos citar a visão de DOS
SANTOS (1985), que considera que os sujeitos comNeurose de Angústia não foram capazes de desenvol-
DOSW SANTOS (1985) ressalta a atualização das expe-
ver completamente o Complexo de Édipo e, portanto,
riências de angústia da infância nas Neuroses Atuais, o
não estabilizaram um Superego sólido. O Ego desses
que daria a característica de extrema dependência do
sujeitos viveria constantemente a ameaça da confusão
objeto materno - inclusive numa estrutura histérica - e
dos dois pais durante o ato sexual e também da confu-
de uma depressão latente, conseqüência de conflitos
são da sua sexualidade com eles. Ora, sabemos que o
não resolvidos. ALVIM (1985), nessa mesma linha, con-
temor infantil frente à figura dos pais fundidos é tão in-
sidera a Neurose de Angústia como a neurose infantil
tenso principalmente pela carga dos impulsos
típica - e não Histeria - e a partir dela teríamos as diver-
destrutivos que essa situação gera. O que se encontra
sas possibilidades de evolução psíquica, seja rumo à
é uma importante repressão das pulsões agressivas.
estruturação das diversas Psiconeuroses, seja rumo auma resolução normal do Complexo de Édipo. Os sujei-
Um dos campos principais em que se manifesta a es-
tos com Neurose de Angústia manteriam na idade adul-
trutura subjacente da Neurose da Angústia é no das re-
ta uma grande quantidade de angústia flutuante, nor-
lações amorosas. DOS SANTOS (1985) chama a aten-
ção para o tipo de uso que os sujeitos predispostos àNeurose de Angústia fazem dos órgãos genitais, que
Os sintomas agudos da Neurose da Angústia surgem
adquirem simbolicamente um sentido de poder fálico.
sempre que as angústias primárias sobrepujam a força
O que parece ocorrer é a formação de um compromis-
das defesas de Ego, os contra-investimentos e as for-
so entre a perda do objeto amado primordial (a mãe) e a
mações reativas. A força de uma crise aguda de angús-
perda do objeto fetiche substitutivo ( o parceiro). Houve
tia tem o efeito um trauma de castração - vivência de
morte, confusão e profunda regressão. Um estado
Outro ponto a ser discutido é o conceito de "cura" em
depressivo pode aparecer como resultado como resul-
Psicanálise. Freud escreveu a maioria de seus artigos
tado da ferida narcísica que resulta da desorganização
técnicos em que fala da cura antes da reformulação
do Ego, à medida que este persiste sem sucesso na
estrutural do funcionamento psíquico que seria
tentativa de controlar a angústia. "A Neurose de Angús-
introduzida com a Segunda Tópica. Se inicialmente a
tia se situa entre a pulsão e a organização fantasmática
cura estava relacionada à possibilidade de trazer à cons-
do objeto, entre o vivido corporal e o fantasma"(DOS
ciência as recordações reprimidas, posteriormente ca-
minha para uma visão mais complexa, tanto de patolo-gia quanto do processo de cura. O enfoque agora, eprincipalmente em Análise Terminável e Interminávelde 1938, se dá na estrutura de funcionamento e na pos-
sibilidade de modificá-la a partir das interpretações nasituação analítica.
O que a Psicanálise propões de maneira geral para osdiversos quadros psicopatológicos é um modelo teóri-
Segundo esse enfoque "estrutural" o conceito de Neu-
co de psicogênese. Não se trata de uma negação do
rose Atual tende a se apagar, no sentido de estar nor-
orgânico, mas seu enfoque teórico tanto em Freud quan-
malmente em um contexto mais amplo de uma estrutu-
to nos autores que o seguiram é outro. Isto significa
ra complexa de funcionamento, que também determi-
tratar também da terapêutica em um outro nível.
na as características sintomatológicas do quadro, suapatoplastia. Diz LA PLANCHE (1980) que "mesmo no
No caso específico das Neuroses Atuais e da Neurose
caso da deflagração de uma Neurose Atual, uma frus-
de Angústia em particular, Freud negou a existência de
tração só tem impacto quando se encontra em resso-
mecanismos psíquicos envolvidos na sua gênese, afas-
nância com uma problemática pessoal.". O que alguns
tando a possibilidade de intervenção pelo método psi-
autores psicanalíticos têm ressaltado, sem fazer alusão
canalítico. Se, no entanto, adotamos a posição de
ao biológico, já que este não é o campo de investiga-
LAPLANCHE (1980) e de tantos outros, não há porque
ção teórica, nem de atuação terapêutica da Psicanáli-
manter a distinção entre Neurose de Angústia e
se, é que, via de regra, tanto o conflito psíquico incons-
Psiconeuroses em termos tão radicais.
ciente quanto os sintomas atuais têm importância vital
na compreensão do quadro e no desenvolvimento daterapêutica.
A fixação pré edipiana a essas estruturas promove umaforte ligação à imagem idealizada do objeto primário (a
Em termos práticos a questão seria poder abordar o
mãe). Foram incapazes de ultrapassar a neurose infan-
paciente com Neurose de Angústia, do ponto de vista
til de caráter histérico, que se mantém até a idade adul-
psicanalítico, com o intuito de esclarecer as relações
ta. O núcleo depressivo presente na maioria desses
individuais que o sujeito faz, inconscientemente, de seus
doentes deve-se ao investimento que fizeram no corpo
sintomas com outras estruturas de funcionamento e com
e no falo, juntamente com uma insuficiência narcísica e
experiências presentes e passadas que se encontrem
egóica ocasionada por uma excessiva dependência da
em conexão com o Reprimido e com a dinâmica do
figura materna e de um Ego idealizado. A incapacidade
de desinvestimento narcísico impede a competição e arivalidade que culminam na mudança de objeto
A relação terapêutica com esses pacientes costuma ser
alcançada na fase fálica do Complexo de Édipo.
difícil. No início do tratamento costumam apresentarmais queixas que outros, centrando o discurso nas suas
O que nos desconcerta é a aparente normalidade da
crises de angústia. A vivência do passado é repleta de
organização desses pacientes. Sua real falta de organi-
denegações, atrás das quais normalmente encontramos
zação só surge à investigação mais detalhada. Seu ide-
uma figura materna vista como muito envolvente, senti-
al de Ego é exagerado e compensam as falhas de orga-
da pelo doente, na transferência, como sempre presen-
nização com a falicidade. Os indivíduos com estruturas
te. Os pais foram vivenciados como extremamente pró-
histéricas mal integradas seriam os mais susceptíveis
ximos um do outro, sem que pudesse sentir que havia
de desenvolver uma Neurose de Angústia.
espaço para demonstrar o ciúme que favorece a orga-nização do superego em torno da figura dos pais. São
A outra dificuldade que surge no tratamento desses in-
pacientes que não ultrapassaram de forma adequada a
divíduos é o fato de falarem das mesmas angústias que
fase de clivagem que separa pai de mãe e possibilita
o terapeuta conhece, mas que foi mais ou menos ca-
uma posterior identificação adequada. Como conseqü-
paz de suplantar. Ao se referirem à sua angústia, mui-
ência também o parceiro será um objeto clivado e idea-
tas vezes ligada à morte, à integridade do Ego, à sua
identidade, interferem com o diálogo interior do analis-
ta, fazendo-o reencontrar, pela comunicação, os fantas-
primeiras etapas do desenvolvimento infantil. Tem-se
mas que em outras ocasiões elaboraram de forma mais
que entender que as queixas e os sintomas nessa fase
são a forma pela qual o doente tenta resolver a angús-tia. O analista se fará presente através de suas palavras
Antes de curar a doença o analista terá de se preocu-
de compreensão do sofrimento do Ego, sem, no entan-
par em restabelecer uma relação de objeto que possibi-
to aderir às angústias exteriorizadas pelo paciente.
lite a reconstrução do Ego. Deverá ser inicialmente umauxiliar na passagem do mundo antes das palavras - ou
A transferência revelará todas as dúvidas e
de representação de coisas - para o mundo das pala-
ambivalências na relação com a figura materna, funda-
vras - ou representação de palavras, i.e., de
das na extrema dependência que o doente sentiu no
simbolizações. A vivência de morte descritas por es-
passado. O analista será em algum momento inevita-
ses pacientes se encontra ligada a uma existência
velmente tomado, na transferência, pela mãe boa, de-
visceral, a um período em que o indivíduo ainda não
vendo então evitar as gratificações, exceto aquelas que
encontrara um nome para substituí-la.
dizem respeito à sua atitude de escuta cuidadosa e decompreensão, sem esquecer de analisar a
O terapeuta precisa esperar a reorganização de um Ego
agressividade sempre latente nas queixas. A postura
elementar que torne possível a recuperação de um Ego
de proximidade, mas não de confusão e fusão com o
elementar que torne possível a recuperação do
estado de angústia do paciente, irá gradualmente dimi-
narcisismo tão duramente atacado pelas crises de an-
nuindo a agressividade gerada pela angústia de ser
gústia. Numa primeira fase o doente irá se apoiar na
destruído no estado de confusão com a figura dos pais
imagem do analista para ser capaz de suplantar o esta-
fundidos e possibilitando a estruturação de um Ego mi-
do de angústia, para só então ter acesso a uma organi-
nimamente capaz de, finalmente, ir reintegrando o Com-
zação histérica, simbolizada e, portanto, susceptível de
abordagem psicanalítica propriamente.
O tratamento e a cura se fazem, por isso, em dois tem-pos. Inicialmente a análise funciona como um órgão de
para-excitação da angústia, nos moldes da mãe nas
los explicativos bioquímicos ou neuroanatômicos, oumesmo modelos animais. A seguir examinamos alguns
dos mais pesquisados nas últimas décadas.
As referências a quadros clínicos em que o sintoma pre-ponderante fosse a ansiedade, principalmente suas
manifestações autonômicas, são, como vimos no capí-tulo I, bastante antigas. As tentativas de estudar estes
quadros, e principalmente o Transtorno do Pânico, deforma mais sistemática, no entanto, são bem mais re-
Os primeiros dados sobre pânico induzido por lactato
centes, datando da década de 1940 em diante.
datam da década de 40/50 quando foram descritas "re-ações de ansiedade" desencadeadas por exercícios. O
A idéia cada vez mais aceita de uma etiologia biológica
trabalho clássico de PITTS e McCLURE (1967) foi o pri-
do Transtorno do Pânico vem principalmente de duas
meiro estudo duplo-cego dos efeitos da infusão de
lactato isoladamente ou adicionada de cálcio a grupocontrole e a pacientes com diagnóstico de Neurose de
do fato de que, se um ataque de pânico ocorre
de forma espontânea, sua gênese deve serinterna;
edo fato de muitos desses pacientes apresenta-
sentir-se tenso ou com ansiedade "flutuante"
rem melhora significativa com algumas drogas
quase diariamente por pelo menos dois anos;
antidepressivas, o que indicaria uma possível
elo menos 10 de uma lista de 16 sintomas;
alteração subjacente de neurotransmissores.
sem outros transtornos psiquiátricos ou clíni-
cos que afetassem a função cardíaca, pulmonar,
Os trabalhos que foram aparecendo dizem respeito às
tentativas de delimitar modelos úteis de trabalho, se-
ter surgido a síndrome antes dos 30 anos.
jam modelos experimentais em que se induzem ataques
de pânico ou se os manipula com drogas, sejam mode-
Os resultados significativamente diferenciados das res-
postas dos pacientes e controles às soluções utilizadas
diagnóstico, tais como: aumento de freqüência cardía-
levaram a levantar a hipótese de que os sintomas ansi-
ca e pressão arterial, diminuição de PCO2, cálcio e
osos teriam um mecanismo bioquímico com algum pon-
cortisol e aumento de pH, bicarbonato, lactato, e
to em comum que envolveria a ligação do íon cálcio à
pivurato. De tal forma que toda alteração observada
superfície da membrana neuronal, formando um com-
durante a infusão só pode ser analisada à luz dos efei-
plexo mediano pelo íon lactato produzido no meio
tos universais citados. COWLEY e col. (1986) reforçam
intracelular. Isto poderia acontecer em indivíduos nor-
a não especificidade do modelo de lactato, uma vez
mais sob estresse como conseqüência de um aumento
que encontraram resposta positiva em 7 pacientes com
acentuado da produção de lactato em resposta á libera-
diagnóstico de Depressão Maior e ataques de pânico
secundários (DSM III) e em 14 pacientes com Agorafobiacom Ataques de Pânico.
Inúmeros trabalhos apareceram na literatura seguindoessa linha de investigação. Desde então a infusão de
Os trabalhos de LIEBOWITZ e col. (1985; 1986) e de
lactato e as crises de ansiedade por ela desencadeadas
COWLEY e DUNNER (1988) trouxeram contribuições para
têm sido tomadas como um modelo de ataque de pâni-
o entendimento das alterações clínicas, fisiológicas e
co, superponível sintomaticamente aos ataques que
bioquímicas no correr de um ataque de pânico induzido
ocorrem nos pacientes no curso de um Transtorno do
por lactato. De uma maneira geral parece que os paci-
Pânico ou de um quadro de Transtorno do Pânico com
entes que desenvolvem ataques de pânico durante a
infusão de lactato se encontram no momento pré-testeem uma situação de ativação autonômica com pressão
GORMAN e col. (1985) demonstraram que o modelo do
arterial e freqüência cardíaca iniciais maiores quando
lactato não é específico para o Distúrbio do Pânico, mas
comparados à pacientes que não desenvolveram um
sim para ataques de pânico em geral, uma vez que os
ataque de pânico e com controles normais. Além dis-
pacientes com Depressão Atípica com Ataques de Pâ-
so, estes pacientes apresentam durante a infusão ní-
nico e com Bulimia também respondem de forma posi-
veis mais elevados de pH, lactato e piruvato e menores
tiva à infusão do lactato. Ressaltaram que a infusão de
de cálcio ionizado que os controles. COWLEY e DUNNER
lactato produz por si só várias e importantes alterações
(1988) não encontraram diferenças na abordagem clíni-
biológicas em qualquer indivíduo, a despeito do seu
ca que pudessem distinguir esses grupos , exceto a
presença preponderante de história familiar de ataque
importasse na infusão de lactato não fosse a alcarose
de pânico em parentes de 1° grau no subgrupo que
metabólica provocada por sua metabolização em
desenvolveu ataques de pânico durante a infusão.
piruvato e bicarbonato, mas a acidose no sistema ner-voso central (SNC), já que o bicarbonato não passa a
Esses resultados parecem indicar que o efeito do lactato
barreira hematoencefálica, mas o CO2 sim. Dessa for-
talvez seja primariamente periférico e não diretamente
ma talvez os ataques de pânico fossem provocados por
central via quimioreceptores centrais. Além disso, as
uma anormalidade nos receptores centrais de CO2.
pesquisas não demonstraram aumento periférico deepinefrina nem níveis específicos de pH acima do qual
A hipótese de que os ataques de pânico são devidos a
um ataque de pânico seja desencadeado.
uma sensibilidade anormalmente alta dosquimioreceptores medulares centrais parece contesta-
da pelo trabalho de WOODS e col. (1986), em que éfeita a indução de ataques de pânico por CO2, sendo
Sabe-se que a hiperventilação por si só é capaz de pro-
encontrada uma resposta respiratória nos pacientes
vocar sintomas como tontura, náusea e desconforto
semelhante a de controles normais. Dados pré-clínicos
respiratório além de tremores, por seu efeito secundá-
rio na concentração de cálcio ionizado. A partir dessas
noradrenalina no locus coeruleus de ratos.
evidências GORMAN e col. (1984) submeteram um gru-po de pacientes com Transtorno do Pânico ouAgorafobia com Ataques de Pânico diagnosticados peloDSM III a três situações experimentais: a uma mistura
de ar com 5% de CO2, a uma situação de hiperventilação,e à infusão de lactato. Demonstraram que a
Partindo de evidências da semelhança de reações fisi-
hiperventilação, é incapaz de induzir ataques de Pâni-
ológicas do medo e da ansiedade no ser humano e da
co, enquanto que a mistura de ar com 5% de CO2 induz
reação de "fuga ou luta" dos animais, uma série de tra-
ataques de pânico nos pacientes na mesma proporção
balhos foi realizada baseando-se no modelo do locus
que o lactato. Haveria portanto um ponto em comum
coeruleus, cuja estimulação, de acordo com REDMOND
nessas situações experimentais, sendo que talvez o que
e HUANG (1979, apud KAHN e col. 1988), produz com-
portamento de "fuga ou luta" em macacos. Este com-
CHARNEY e col. (1984) sugerem que uma reatividade anor-
portamento estaria associado a elevações nos níveis
malmente alta dos sistemas noradrenérgicos possa estar
de noradrenalina e metoxi-hidoxi-fenilglicol (MHPG) no
ligada à produção de algumas formas de ansiedade huma-
cérebro, líquido cerebroespinhal e no plasma. Além dis-
na. Além disso, lesões bilaterais do locus coeruleus dimi-
so, como indicam UHDE e col. (1984), há um acúmulo
nuem a ocorrência natural de resposta comportamental,
de evidências que indicam que drogas que aumentam
em animais, em situações de confrontação.
a atividade do locus coeruleus têm efeitos ansiogênicos,enquanto as que diminuem têm efeito ansiolítico.
Os ataques de pânico podem ser o resultado da falên-cia dos auto-receptores alfa-2 adrenérgicos na regulação
CHARNEY e HENINGER (1986 a) sugerem que, sendo os
adequada das flutuações normais da atividade dos
neurônios noradrenérgicos muito responsivo às aferências
sensoriais, uma função global do sistema noradrenérgicocerebral poderia ser o aumento dos efeitos que essas in-
1. Clonidina: A clonidina é um agonista dos auto-recep-
formações sensoriais exercem em vários locais do cére-
tores alfa-2 adrenérgicos e seu efeito é uma estimulação
bro. Isto teria uma relação importante com a hipótese de
pós sináptica no córtex cerebral e pré-sináptica nos auto-
recptores inibitórios das células do locus coeruleus,
noradrenérgico na etiologia dos Transtornos de Pânico.
esperando-se com isso uma diminuição da atividadenoradrenérgica e conseqüente efeito "ansilolítico". Uma
A regulação da atividade noradrenérgica e múltipla, mas
série de trabalhos têm corroborado o efeito esperado.
a principal é feita pelo receptor alfa-2 adrenérgico pré-
Como indicam UHDE e col. (1984) a clonidina reverte
sináptico que regula a liberação da noradrenalina atra-
sintomas ansiosos associados à abstinência de
vés de um mecanismo de "feedback" negativo.
opióides, bloqueia os ataques de pânico e reduz sinto-mas de ansiedade generalizada. Além disso, o efeito
O sistema noradrenérgico do SNC está envolvido no
ansiliolítico é observado em pacientes deprimidos mas
sistema de processamento de informações que têm seu
não em controles normais , sugerindo que sua ação
início de ação partindo do locus coeruleus em direção
esteja relacionada às alterações dos níveis basais de
a várias outras áreas cerebrais, tendo como resultado
MHPG, sendo seu efeito maior nos indivíduos com mai-
uma amplificação das aferências sensoriais.
De uma maneira geral as situações experimentais de
primária do sistema noradrenérgico, por exemplo por
indução de pânico (lactato, isoprotenelol, CO2 etc.) pro-
aumento da sensibilidade dos auto-receptores alfa-2, ou
duzem alterações periféricas que poderiam ser interpre-
por alterações em outros sistemas neuronais que regu-
tadas pelos pacientes como potencialmente ameaça-
lam a atividade das aferências excitatórias (ação
doras, o que dificulta determinar a influência de fatores
colinérgica), seja por um aumento da atividade das
cognitivos nesses experimentos a clonidina é um
aferências inibitórias (ação de opióides, ácido gama
agonista alfa-2 seletivo central e portanto com menores
amino butírico-GABA, serotonina e epinefrina). De acor-
efeitos periféricos. NUTT (1986) sugere que a resposta
do com CHARNEY e HENINGER (1986a) esta segunda
hipotensora aumentada de pacientes com ataques de
hipótese, no entanto, se choca com os resultados da
pânico, sem taquicardia secundária, indica por um lado
administração de ioimbina, que aumenta a concentra-
uma ação direta de estimulação vagal, e por outro refor-
ção de MHPG, sugerindo uma diminuição das inibitórias.
ça a existência de uma diferença biológica no Transtor-no do Pânico provavelmente a nível de adrenorecep-
2 . Ioimbina: É uma antagonista alfa-2 adrenérgico que
aumenta o turnover e a atividade noradrenérgica porbloqueio dos receptores alfa-2 adrenérgicos inibitórios.
As respostas anormais de MHPG, pressão arterial (PA),
A regulação neuronal noradrenérgica por bloqueio dos
hormônio de crescimento (GH) e de sedação à clonidina
receptores alfa-2 adrenérgicos inibitórios. A regulação
em pacientes com Transtorno de Pânico são provavel-
neuronal noradrenérgica por bloqueio dos receptores
mente devidas a anormalidades na função
alfa-2 adrenérgicos inibitórios. A regulação neuronal
noradrenérgica e se ligam à ação da clonidina em re-
noradrenérgica pré-sináptica foi estabelecida com o uso
ceptores alfa-2 adrenérgicos de vários locais do cére-
da ioimbina, que provoca um aumento do MHPG livre
bro: auto-receptores (MHPG), receptores pós-sinápticos
no plasma pelo mecanismo de ação citado. UHDE e
(GH) ou ambos (sedação). De uma forma geral esses
col.(1984) administraram ioimbina em doses incapazes
efeitos são os opostos aos encontrados com o antago-
de produzir ansiedade em indivíduos normais e encon-
traram como resposta uma intensa ansiedade e atémesmo ataques de pânico em pacientes com Distúrbio
Essa suposta alteração da função noradrenérgica num
subgrupo de pacientes pode ser devida a uma alteração
CHARNEY e HENINGER(1986 b) determinaram que a ad-
das monoaminas na membrana neuronal de neurônios
ministração de ioimbina provocou ataques de pânico em
centrais. Não há uma seletividade absoluta, mas as
54% dos pacientes com Transtorno do Pânico ou com
aminas secundárias parecem ter maior efeito na
Agorafobia com Ataques de Pânico, e em apenas 5% dos
noradrenalina, enquanto as terciárias teriam maior efei-
controles normais. Os sintomas descritos são semelhan-
to na serotonina. Essa inibição da recaptura leva a um
tes aos que ocorreram em ataques "naturais". Os pacien-
aumento da quantidade de monoamina na sinapse e a
tes que tiveram ataques de pânico apresentaram um
uma queda na sua liberação por mecanismo de
aumento de MHPG maior quando comparados aos paci-
"feedback’. O receptor envolvido deve ser um auto-re-
entes que não tiveram ataques de pânico e aos contro-
ceptor ou um receptor pré-sinaptico alfa-adrenérgico.
les. Estudos prévios indicavam uma especificidade deresposta em pacientes com ataques de pânico e não
SVENSSON e USDIN (1978) determinaram que o trata-
produz efeito em outros distúrbios psiquiátricos.
mento crônico com antidepressivo tricíclico inibe arecaptura da noradrenalina e também estabiliza o siste-
Em situações normais o aumento da função
ma noradrenérgico contra novas mudanças , especial-
noradrenérgica leva a um "feedback" que reduz a ativi-
mente a diminuição de ritmo de disparo.
dade neuronal por estímulo do auto-receptor inibitórioalfa-2 adrenérgico. Nos pacientes supõe-se que a ativi-dade do receptor esteja anormalmente baixa, o queacarretaria uma atividade noradrenérgica prolongada.
3. Antidepressivos tricíclicos: NYBACK e col. (1975) em
Grande parte do cérebro é inervada por neurônios
estudo feito com antidepressivos tricíclicos- drogas com
serotoninérgicos , sendo que os núcleos da rafe no tron-
comprovada ação anti-pânico - fornecem dados para a
co cerebral são os locais de maior concentração dos
compreensão da possível da possível patogenia desse
neurônios produtores de serotonina, de onde partem
quadro. Estudos pré-clínicos indicam que a ação dos
projeções ascendentes para as demais regiões como
antidepressivos tricíclicos se dá na modificação do rit-
córtex, tálamo, gânglios da base, substância negra,
mo de disparo das células noradrenérgicas do locus
caudado, putamen, amígdala, hipocampo, septo,
coeruleus. Seu efeito principal é a inibição da recaptura
tegmento e corpos mamilares. Além disso duas cate-
gorias e várias subcategorias de receptores foram
No entanto, como mostra a revisão de KHAN e col.
identificadas, tornando um possível modelo
(1988), os dados dos experimentos com serotonina em
animais sugerem que uma diminuição na funçãoserotoninérgica atenua as respostas ansiosas. Um au-
BREIER e col. (1984) indicaram que pelo menos num
mento da função serotoninérgica teria efeitos contradi-
subgrupo de pacientes com Depressão Maior há evidênci-
tórios na ansiedade, sendo ansiolítico num sistema de
as de alteração na função serotoninérgica no SNC, e que a
sensibilidade normal de receptores pós-sinápticos, e
ação dos antidepressivos nesses quadros se daria exata-
ansiogênico no caso de receptores hipersensíveis.
mente via serotonina. Esse argumento é reforçado por au-tores que encontraram equivalência de efeito terapêutico
Ao contrário do defendido por LIEBOWITZ e col.(1985),
entre a clomipramina e a fluvoxamina, um inibidor seletivo
LINGJAERDE (1985) sugere ainda que o transporte do
da recaptura de serotonina. Sabe-se também que há se-
lactato pela barreira hematoencefálica é rápido o sufici-
melhanças entre os quadros de Transtorno do Pânico e
ente para provocar um aumento na concentração cen-
esse subgrupo de depressão. Além disso vários trabalhos
tral de lactato. Essa inibição da atividade serotoninérgica
pré-clínicos sugeriam a existência de alterações da função
decorrente da ação do lactato poderia também ocorrer
serotoninérgica nos ataques de pânico.
indiretamente por diminuição do pH intracerebral.
LINGJAERDE (1985) sugeriu que a indução de ataques de
Outras evidências que sustentam a hipótese
pânico pela infusão de lactato se daria por um estímulo da
serotoninérgica do desencadeamento de ataques de
recaptura da serotonina pelos neurônios serotoninérgicos
pânico vêm do trabalho de EVANS e col.(1986), com
centrais, seguindo os achados de pesquisas anteriores que
inibidor seletivo central da recaptura de serotonina -
demonstraram que o lactato estimulava a captura da
zimeldine. Partindo do fato que drogas com efeito anti-
serotonina pelas plaquetas humanas . Esse aumento de
pânico têm em comum um efeito poderoso na serotonina,
recaptura a nível de SNC teria como conseqüência uma
levando a um aumento da sua atividade no SNC, e da
diminuição do efeito inibitório da serotonina e conse-
demonstração feita anteriormente de que pacientes
quentemente o surgimento da ansiedade pela diminuição
agorafóbicos têm níveis plasmáticos de 5-hidroxi
do efeito inibitório da serotonina no locus coeruleus encon-
triptofano (5HT) inferiores aos controles, os autores estu-
trada durante os ataques de pânico.
daram em situação duplo-cega os efeitos da zimeldine,
da imipramina e do placebo em pacientes com
dos primeiros. Doses altas endovenosas, no entanto,
Agorafobia com Ataques de Pânico. Repetindo resulta-
seriam capazes de induzir ansiedade nos dois grupos,
dos antes obtidos por MARKS e col. (1983), a imipramina
por uma superestimulação dos receptores serotoninér-
não foi superior ao placebo, e a zimeldine mostrou-se
gicos em todos os sujeitos. CHARNEY e HENINGER
superior de forma significativa em quase todas as esca-
(1986 b) avaliaram a função serotoninérgica através de
las de avaliação, dando força às evidências de que a
teste de dosagem de prolactina após administração de
serotonina teria um papel importante na etiologia bioquí-
triptofano em pacientes com ataque de pânico antes e
mica da Agorafobia com Ataques de Pânico.
durante o tratamento prolongado com alprazolan e nãoforam capazes de demonstrar qualquer anormalidade,
Contra essas evidências se colocam CHARNEY e col.
sugerindo que o mecanismo de ação do alprazolan é
(1987), que estudando a resposta ao agonista do receptor
mediado por outra via que não a serotoninérgica. A va-
de serotonina m-clorofenilpiperazina (MCPP) encontraram
lidade dessas conclusões é, no entanto, questionável,
resposta ansiogênica, inclusive com ataques de pânico,
uma vez que o triptofano não parece ser apropriado
tanto em pacientes quanto em controles sem história pes-
para avaliar a função serotoninérgica, especialmente
soal ou familiar de ataques de pânico, sem diferenças
quando administrado em doses altas. O triptofano com-
estatísticas entre os dois grupos , sugerindo que não há
petiria com a tirosina, percursor da noradrenalina e da
uma alteração primária da função serotoninérgica nos
dopamina, e com isso o aumento da prolactina poderia
pacientes com ataques de pânico, mesmo que algumas
ser o reflexo de uma ação no sistema noradrenérgico
formas de ansiedade possam estar ligadas a um aumen-
ou dopaminérgico, e não serotoninérgico.
to da atividade pós-sináptica da serotonina. No entanto KAHN e col. (1988) lembram que outros au-
Pode-se concluir que nenhuma teoria serotoninérgica
tores como MUELLER e col. (1985,1986), ZOAR e INSEL
da ansiedade englobará de forma simples todos os acha-
(1987) e KAHN e col. (1987) não encontraram resposta
dos. KAHN e col. (1988) propõem que em alguns dis-
ansiogênica à administração oral de pequenas doses
túrbios ansiosos, especialmente no Transtorno do Pânico
de MCPP a controles normais. Consideram que a dife-
e no Transtorno Obsessivo-Compusivo o sistema pós-
rença de resposta ao MCPP oral de pacientes com ata-
sináptico de receptores serotoninérgicos pode estar hi-
ques de pânico e de controles normais deve ser atribu-
persensível e portanto sua estimulação provocaria ansie-
ída à hipersensibilidade dos receptores serotoninérgicos
dade. Este modelo teria a vantagem de explicar a piora
inicial observada em muitos pacientes com Transtorno
tem como conseqüência um aumento da atividade
do Pânico quando medicados com drogas agonistas de
serotoninérgica nos núcleos da rafe e portanto um aumen-
serotonina, sendo que a subseqüente melhora do quadro
to da ansiedade por ativação noradrenérgica poderia se
seria devida a uma "down regulation" compensatória do
dar pela intermediação do sistema serotoninérgico. Tal-
receptor serotoninérgico. Também explicaria de forma
vez o balanço entre atividade noradrenérgica e atividade
satisfatória a resposta ansiogênica a baixas doses de MCPP
serotoninérgica seja mais importante na gênese da ansie-
observada em pacientes com ataques de pânico.
dade que alterações "puras" de um ou de outro sistema.
Esta hipótese é certamente uma simplificação apesar deseu potencial explicativo, uma vez que há pelo menos
quatro receptores serotoninérgicos diferentes e que osistema serotoninérgico está em íntima conecção com
Diversas evidências sugerem que o locus coeruleus está
outros sistemas cerebrais como o noradrenérgico e o
envolvido em funções complexas como aprendizado,
GABAérgico, sendo no mínimo complicado dizer que fe-
memória, estresse e extinção de comportamentos e
nômenos são primariamente devidos a uma alteração
segundo BALLENGER (1989) principalmente pelo seu
papel no processamento de múltiplas aferências senso-riais, em especial no que diz respeito ao significado do
KAHN e col. (1988) lembram que locus coeruleus, local de
estímulo. MASON e FIBIGER (1979) ressaltam a hipótese
maior concentração de neurônios noradrenérgicos no SNC,
do envolvimento dessa estrutura nas manifestações de
recebe projeções serotoninérgicas da rafe dorsal e a
medo e ansiedade advinda dos experimentos com le-
estimulação dos núcleos desta bloqueiam o aumento do
sões e estimulações elétricas de REDMOND e col. (1976).
ritmo de disparo do locus coeruleus observado após umaestimulação nociva , sugerindo um efeito ansiolítico pri-
O locus coeruleus possui cerca de 50% dos neurônios
mário da serotonina, intercedido pelo sistema
noradrenérgicos do SNC, e é responsável pela produ-
noradrenérgico. Isto é reforçado pela supressão de dispa-
ção de até 70% de toda a noradrenalina cerebral. É ele
ro do locus coeruleus pela aplicação direta da serotonina.
também que provê a principal inervação noradrenérgicapara os córtices cerebral e cerebelar, para o sistema
Por outro lado um aumento na atividade noradrenérgica
límbico, tronco cerebral e várias regiões da medula.
Também recebe aferências de quase todas as áreas do
anatômicos e funcionais ressaltam a importância do
sistema nervoso central. Sua freqüência de disparos é
locus coeruleus em qualquer modelo neuroanatômico
aumentada por drogas antagonistas alfa-2 adrenérgicas
do Trastorno do Pânico pela sua localização e
como a iombina e tem como manifestação um aumen-
to do comportamento associado ao medo e à ansieda-de, tanto em macacos quanto em humanos voluntários
O surgimento da tomografia por emissão de pósitrons
normais. Drogas com efeito agonista alfa-2 adrenégico
(PET) possibilitou a abertura de uma nova área de pes-
como a clonidina têm a capacidade de diminuir o ritmo
quisa neuroanatômica. REIMAN e col. (1984) mediram
de disparo do locus coeruleus, provocando uma mani-
o fluxo sangüíneo cerebral de pacientes com Transtor-
festação menor de medo, mostrando-se clinicamente
no do Pânico, fora da situação de ataque de pânico e
com afeitos ansiolíticos no ser humano.
de controles normais. Foram vistos aumentos de fluxono hipocampo, giro parahipocampal, lobo parietal infe-
Como ressaltam REDMOND e HUANG (1979, apud KAHN
rior, giro cíngulo anterior, hipotálamo, giro órbito-insular e
e col. 1988) apesar da estimulação do locus coeruleus-
amígdala. No entanto só foi encontrada assimetria de flu-
seja por que agente for - levar a um comportamento de
xo na região do giro parahipocampal de pacientes com
medo ou ansiedade, e sua lesão - anatômica ou funcio-
Transtorno de Pânico e resposta positiva à indução de
nal - levar a uma situação desse comportamento, prin-
ataques por infusão de lactato. A predominância de flu-
cipalmente em situações de grupo em estudos com
xo à direita não pode ser avaliada se não em termos
animais, deve-se lembrar que os efeitos tidos como
relativos , uma vez que os valores absolutos estavam
mediados por neurônios noradrenérgicos podem ser o
dentro da faixa tida como normal. A região do giro
resultado da alteração de outros sistemas neuro-
parahipocampal é considerada uma das responsáveis
transmisso-res no cérebro vivo, já que a morfina e o
pelos sintomas de pânico e ansiedade e pelo alerta. Con-
diazepam também alteram esses comportamentos e sua
tém o córtex entorrinal e o subiculum, os maiores locais
maior ação se dá respectivamente nos receptores de
de aferência e eferência do hipocampo, sendo portanto
opióides e nos receptores GABA somato-dendríticos.
uma região do cérebro humano considerada importante
Além disso a atividade do locus coeruleus é grande-
mente influenciada pela aferrenhais serotoninérgicas das
áreas pontina e da rafe medial. Em todo caso, os dados
O surgimento da tomografia por emissão de pósitrons
(PET) possibilitou a abertura de uma nova área de pes-
normal antecipatória quanto a ansiedade induzida por
quisa neuroanatômica. REIMAN e col. (1984) mediram
lactato - ataques de pânico - teriam como ponto comum
o fluxo sangüíneo cerebral de pacientes com Transtor-
um aumento do fluxo sangüíneo nos polos temporais,
no de Pânico, fora da situação de ataque de pânico e
medido com PET. Indivíduos normais ao serem infor-
de controles normais. Foram vistos aumentos de fluxo
mados que receberão choques elétricos dolorosos de
no hipocampo, giro parahipocampal, lobo parietal infe-
intensidades progressivas apresentam no exame com
rior, giro cíngulo anterior, hipotálamo, giro órbito-insular
PET antes da situação de choque um aumento signifi-
e amígdala. No entanto só foi encontrada assimetria de
cativo do fluxo sangüíneo bilateralmente nos polos tem-
fluxo na região do giro parahipocampal de pacientes
porais - região que se sabe estar implicada no ataque
com Transtorno do Pânico e resposta positiva à indução
de pânico induzido por lactato e que foi chamada de
de ataques de pânico por infusão de lactato. A predo-
"área paralímbica" por seu papel na avaliação da rele-
minância de fluxo à direita não pode ser avaliada se
vância da informação ambiental para a produção de uma
não em termos relativos, uma vez que os valores abso-
lutos estavam dentro da faixa tida como normal. A re-gião do giro parahipocampal é considerada uma das
responsáveis pelos sintomas de pânico e ansiedade e
neuroanatômico que tenta dar conta de explicar não só
pelo alerta. Contém o córtex entorrinal e o subiculum,
os ataques de pânico, mas também a ansiedade
os maiores locais de aferência e eferência do hipocampo,
antecipatória e os sintomas fóbicos que normalmente
sendo portanto uma região do cérebro humano conside-
se seguem. Tenta criar uma hipótese etiológica que con-
rada importante na expressão das emoções.
temple tanto aspectos biológicos quanto comportamental-cognitivos.
Essa assimetria poderia se correlacionar com umavulnerabilidade a ataques de pânico, mas não com o
Os ataques de pânico agudos são vivenciados como ver-
estado de pânico em si e refletiria um exagero da espe-
dadeiras "tempestades" de atividade do sistema nervoso
cialização normal do hemisfério, no que diz respeito à
autônomo e as situações experimentais que aumentam a
atividade noradrenérgica do SNC, por exemplo o uso daioimbina - antagonista alfa-2 adrenérgico - aumentam o
REIMAN e col. (1989) sugerem que tanto a ansiedade
ritmo de disparo do locus coeruleus e podem desencadeá-
los. Por outro lado, o papel do tronco cerebral nos ata-
e com base nos dados já há muito conhecidos de que a
ques de pânico agudos é demonstrado pelo efeito
estimulação de áreas límbicas em animais produzem
antipânico da clonidina - um agonista alfa-2 adrenérgico -
respostas de medo, e nos trabalhos de REIMAN e col
que diminui o ritmo de disparo do locus coeruleus e pelos
(1984) com PET, em que demonstraram a existência de
antidepressivos tricíclicos imipramina e desipramina que
assimetria de fluxo sangüíneo nos giros parahipo-cam-
teriam efeito terapêutico nos ataques de pânico por dimi-
pais de pacientes com ataques de pânico. A ansiedade
nuição do ritmo de disparo do locus coeruleus. No entan-
antecipatória se daria pela existência do fenômeno
to CHARNEY e col. (1984) demonstraram que esse efeito
"kindling" no sistema límbico, de tal forma que, estimu-
dos antidepressivos tricíclicos pode se dar, a longo prazo,
lados inúmeras vezes pelas descargas do tronco cere-
por um aumento da função, tanto por aumento de síntese
bral, os neurônios límbicos passariam a ter um limiar
e liberação quanto por aumento de sensibilidade de re-
menor para estimulação pós-sináptica, de maneira que
ceptores pós-sinápticos serotoninérgicos.
qualquer estimulação "subpânica" seria capaz de man-ter um estado de ansiedade antecipatória.
Os achados às pesquisas com indução de ataques depânico pelo lactato sugerem que sua ação se dá via
A explicação dada pelo modelo para os sintomas fóbicos
irritação do tronco cerebral, em especial do locus
é um tanto mais complexa. KANDEL e SCHWARTZ (1982)
coeruleus e dos quimiorreceptores da medula, pela
demonstraram que animais inferiores dependem da
passagem do CO2 proveniente da metabolização do
manutenção do estímulo para a perpetuação de um
lactato em bicarbonato. Os autores sugerem que os ata-
comportamento de evitação. Os animais mais comple-
ques de pânico seriam deflagrados nos pacientes sem-
xos precisariam de menos estímulos e no ser humano
pre que uma situação de ativação autonômica periféri-
o fenômeno aprendido envolveria uma capacidade cons-
ca não estiver atrelada a uma demanda metabólica -
ciente, provavelmente mediada por um centro cortical
como seria o caso da infusão de lactato -. Esta ativação
superior. Assim sendo, a descarga neuronal do ataque
seria interpretada por locais "hipersensíveis" do tronco
de pânico seria interpretada pelo córtex pré-frontal como
cerebral como um perigo, desencadeando uma casca-
uma ameaça. Isto também ocorreria com relação à situ-
ta de eventos neuronais que levariam ao pânico.
ação ambiental associada à tempestade autonômica doataque de pânico e com as cognições que o acompa-
Ressaltada a gênese límbica da ansiedade antecipatória
nham. Dessa forma tanto a situação quanto as
cognições passariam a ter um potencial deflagrador de
ataques de pânico por sua associação aos sintomas doataque , passando a ser assim evitadas pelo paciente.
O que se estuda nos modelos animais de ansiedade é,normalmente, a reação a um perigo externo, a confli-
O principal problema na avaliação desse modelo
tos, traumas etc., sendo portanto muito mais um mode-
neuroanatômico de GORMAN e col. (1989) é o fato de
lo de medo ou aprendizado que de ansiedade como
usarem uma concepção de cérebro hierarquizado, com
estruturas superiores e inferiores, tanto em funcionamen-to quanto em influência de umas sobre as outras.
Quando falamos em ansiedade denota-se um sintoma ,
GAZZANIGA (1989) ressalta a concepção corrente de
uma emoção, um estado mental, ou então inferimos
uma organização cerebral estrutural e funcional em uni-
um construto teórico. Podemos estar nos referindo tan-
dades ou "módulos", que funcionam em paralelo e
to a um sintoma quanto à uma síndrome específica, ou
interagem para produzir atividades mentais. Com rela-
até mesmo a um estado mental normal . Do ponto de
ção à gênese das fobias secundárias aos ataques de
vista diagnóstico a maioria dos trabalhos a partir de 1980
pânico de origem endógena, estudos com pacientes
se utiliza dos critérios para ansiedade da DSM III.
com secção de corpo caloso revelaram a existência de
Cabe ressaltar que nenhum modelo animal poderá ser
um sistema localizado no hemisfério esquerdo que in-
tomado como totalmente adequado às síndromes ansi-
terpreta as ações, humores e processos de pensamen-
osas, já que todos eles dão, virtualmente, um modelo
to que são gerados por grupos de módulos que atuam
fora do campo da consciência. Esse sistema trabalhaindependentemente da linguagem e parece ser exclusi-
Os modelos animais de ansiedade, mesmo que sujei-
vo do cérebro humano. Está relacionado à singular ca-
tos às críticas já citadas, são mais adequados que aque-
pacidade do cérebro de fazer interferências causais e
les desenvolvidos para depressão e esquizofrenia, uma
seu funcionamento, no sentido de sempre procurar
vez que os sintomas autonômicos e somáticos que
contextualizar a experiência de forma unificada, estaria
acompanham os estados de ansiedade nos humanos
na base do desenvolvimento das fobias secundárias.
são extremamente semelhantes aos que observamosquando se desencadeia uma reação de medo nos ani-
mais, como salienta DAVIS (1988). Além desses dados,
os estudos em pacientes de neurocirurgia também cor-
elaboração de estados motivacionais ou afetivos que
roboram a validade de uma correlação entre os mode-
los animais e as reações ansiosas do homem.
Parece bem estabelecido que os ansiolíticos
De uma maneira geral os modelos animais se baseiam
benzodiazepínicos (BDZ) e os barbitúricos exercem seus
no chamado condicionamento operante, em que um
efeitos antiaversivos via sistema GABA envolvido na
comportamento é produzido por meio de determinados
modulação do Sistema Cerebral Aversivo. O sistema
estímulos, sendo em seguida suprimido por uma puni-
GABA-BDZ teria um papel tônico inibitório no Sistema
ção. A associação de um condicionamento por meio
de um reforço e de uma punição que tem como objeti-vo suprimir o comportamento dá a base dos modelos
Por outro lado, esse modelo proposto por GRAEFF (1988)
é uma importante alternativa aos modelos noradre-nérgicos da ansiedade, mas levanta a questão do pa-
GRAEFF (1988) sugere um modelo para a ansiedade
pel da modulação serotoninérgica do Sistema Cerebral
baseado em um modelo de aversão. Nesse o principal
Aversivo. Esse parece ser menos claro que o papel do
responsável seria o Sistema Cerebral Aversivo, isto é,
GABA. Sabe-se que de uma maneira geral as diminui-
um conjunto de áreas cerebrais responsável pelos com-
ções de 5HT induzidas por droga têm um efeito aversivo,
portamentos afetivo-defensivos, como as respostas de
enquanto os aumentos de 5HT provocam uma diminui-
luta e fuga nos animais , e pelos comportamentos ad-
ção dos efeitos aversivos. A serotonina exerceria uma
quiridos que podiam ser mantidos, em situação experi-
inibição fásica no substrato neural da aversão, ou seja,
mental, pela evitação de um estímulo elétrico em área
na substância cinzenta dorsal e no hipotálamo medial.
cerebral aversiva. Fariam parte desse sistema a subs-
RYDIN e col. (1982, apud GRAEFF 1988) acharam uma
tância cinzenta dorso central, o hipotálamo médio e
correlação positiva entre o ácido 5-hidróxi-indol-acético
partes do complexo amigdalóide. São os principais
(5HIAA), o principal metabólico da serotonina, e tolerân-
substratos neurais responsáveis pela expressão dos
cia à ansiedade. Seria no entanto uma ansiedade de
comportamentos defensivos, incluindo tanto o suporte
tipo "não condicionada" ou "somática".
neurovegetativo quanto as alterações neuroendócrinas
que os acompanham. São também responsáveis pela
Os experimentos de KANDEL e SCHWARTZ (1982) com
o molusco Aplysia californica mostraram a importância
ESCOBAR e LANDBLOOM (1976) demonstraram a efi-
da serotonina na mediação de situações de sensibilização
cácia da clomipramina em pacientes com Neurose
nesse invertebrado. Os autores defendem que a Aplysia
Fóbica (DSM II); SHEEHAN e col. (1980) sugeriram que a
condiciona um comportamento de retirada que serve
Ansiedade Endógena deveria ter um distúrbio no meta-
como modelo de ansiedade antecipatória e que a me-
bolismo de neurotransmissores inibitórios ou uma
mória de longo prazo "adquirida" por esse animal após
disfunção a nível de sensibilidade de receptores, a par-
uma determinada série de estímulos produziria uma
tir de estudos duplo-cego controlados com imipramina
sensibilização comparável à ansiedade crônica.
e fenelzina. GRUNHAUS e col.( 1981) revisaram os tra-balhos sobre efeitos dos antidepressivos tricíclicos nos
Como já foi visto em itens anteriores, as múltiplas cone-
ataques de pânico e na Agorafobia, ressaltando o pa-
xões entre os sistemas noradrenérgico e serotoninérgico
pel central dos ataques de pânico tanto nos quadros de
dificultam a opção por um único modelo, sendo prová-
Transtorno do Pânico quanto nos de Agorafobia.
vel que diversas das vias citadas até aqui estejam en-
GLOGER e col. (1981) obtiveram 75% de remissão total
volvidas na gênese de estados ansiosos, qualquer que
em pacientes com ataques de pânico espontâneos, tra-
tados em estudo aberto com clomipramina em dosesde 75 a 100mg por 8 semanas. CASSANO e col. (1988)em estudo aberto com clomipramina e imipramina en-
III . 3 .Contribuição dos estudos de tratamentos com
contraram eficiência no bloqueio dos ataques de pâni-
drogas "anti-pânico" aos "modelos biológicos"
co, melhora da evitação fóbica e diminuição da ansie-dade concomitante com as duas drogas, mesmo em
O modelo até hoje mais aceito para Depressões
pacientes com comorbidade para distúrbio afetivo e de
Endógenas, o das monoaminas cerebrais, deve muito
personalidade, e diferenças apenas quanto ao menor
do seu desenvolvimento aos estudos de mecanismo
tempo de latência da clomipramina não determinou
de ação das drogas antidepressivas. Desde os traba-
lhos clássicos de KLEIN (1962, 1964, 1967) sabe-se queos antidepressivos são eficazes também em quadros
As evidências de uma boa eficácia com os antidepressivos
da então chamada Neurose de Angústia, em especial
sugere que o estudo do seu mecanismo de ação pode
naqueles com ataques de pânico. Nas últimas décadas
fornecer dados valiosos à formulação de modelos para o
Transtorno do Pânico. Além destes, drogas como os
noradrenalina é mais complexo já que substâncias como
inibidores da monoaminaoxi-dase (IMAO), a clonidina, a
a buspirona, a carbamazepina, a mianserina e a nicotina
carbamazepina, a zimelidina, fluoxetina, mianserina e
aumentam a atividade noradrenérgica no locus coeruleus
trazodona são importantes alvos de estudo.
e não provocam ansiedade. Por outro lado, os ataquesde pânico induzidos por lactato não aumenta a atividade
Os experimentos de ação aguda se relacionam à pre-
noradrenérgica medida pelo MHPG plasmático. Os ata-
sença ou ausência de inibição da recaptura de
ques de pânico seriam então resultado de uma disfunção
neurotransmissores, ou a maior ou menor seletividade
noradrenérgica e não de uma mera ativação.
sobre determinado neurotransmissor . Os efeitos daadministração crônica são mais relevantes, uma vez que
ROY-BYRNE e col.(1989) estudaram o efeito de doses
os resultados terapêuticos levam alguns dias e até se-
únicas de 15mg de diazepam em pacientes com Trans-
manas para se manifestarem, e são semelhantes aos
torno do Pânico pela DSM III-R e em controles normais.
propostos para as drogas "antidepressivas". De uma
Encontraram uma diminuição mais acentuada dos ní-
maneira geral essas drogas agem por aumento de trans-
veis de noradrenalina nos controles e alterações nos
missão serotoninérgica. As diferenças do efeito
pacientes apenas com relação à sedação e á diminui-
antipânico com relação ao efeito antidepressivo se dão,
ção de função cognitiva. Esses achados sugerem que
de acordo com GENTIL (1986), na dose média, que é
pacientes com Transtorno do Pânico tenham uma dimi-
menor, na menor latência de resposta, e na maior taxa
nuição da sensibilidade à supressão do sistema nervo-
so simpático pelos benzodiazepínicos.
ELIAS (1987) sugere que o pânico e a depressão com-partilham mecanismos comuns no que diz respeito aresposta aos antidepressivos - a facilitação da transmis-são serotoninérgica - e que a melhora do Transtorno doPânico se dá por um aumento na resposta dos recepto-res pós-sinápticos de serotonina ou uma diminuição dasensibilidade dos auto-receptores serotoninérgicos (pré-
sinápticos). O papel da influência dessas drogas na
mentares - durante dias, na infância, só se alimentavacom bombons - apesar de ter recebido uma educaçãotradicional e algo rigorosa. Foi para a escola com 2 anos,levando 6 meses para se habituar, período em que dia-
riamente chorava, demorando para se acalmar. Sem-pre foi gorda e no momento da primeira consulta em
Os pacientes descritos a seguir foram diagnosticados
fevereiro de l989 estava cerca de 20 a 25 quilos acima
como tendo Transtorno do Pânico de acordo com os
do peso ideal. Namorando há 3 anos um rapaz que foi
critérios do DSM III - R. Os casos 1, 3 e 5 tiveram diag-
seu primeiro namorado mais sério e sua primeira pai-
nóstico de Transtorno do Pânico com Agorafobia leve;
xão. Esse período de namoro foi interrompido por diver-
o caso 2 de Transtorno do Pânico com Agorafobia mo-
sas brigas por "mau gênio dos dois".
derada e os casos 4 e 6 de Transtorno do Pânico semAgorafobia.
Em termos familiares sempre teve bom relacionamen-
to com os irmãos apesar da grande diferença de idade. A mãe é descrita como uma pessoa muito calma, total-
mente dedicada ao marido e aos filhos. Acha que ela éum pouco desorganizada e dependente , mas que o
M.C.C.M., sexo feminino, teve seu primeiro ataque de
pai sempre supriu essa deficiência. O pai era banqueiro
pânico aos 23 anos no cinema, com taquicardia, tremor
até ter que se aposentar 3 anos antes por problemas
sudorese, desconforto pré-cordial, falta de ar e medo
de saúde. A paciente havia sido sempre muito ligada a
intenso de morrer. Os sintomas começaram de forma
ele e acha que sem dúvida foi a mais mimada e a única
súbita, atingiram o máximo de intensidade em poucos
que o conseguia "dobrar" na seriedade com que tratava
minutos e antes de 10 minutos a crise já tinha passado,
os filhos. A doença e subseqüente invalidez do pai aba-
deixando uma sensação de cansaço. Desde então pas-
lou toda a família e a paciente em especial.
sou a ter crises pelo menos semanais. E a filha maisnova de uma prole de seis, com 10 anos de diferença
A paciente estava sendo medicada por um colega comclomipramina 40mg ao dia , com boa resposta terapêu-
para a irmã imediatamente mais velha. Foi muito mima-
tica. No entanto persistiam apreensões e questiona-
da, especialmente no que diz respeito aos hábitos ali-
mentos a respeito de todas as suas atividades e de toda a
sua vida futura. Estava nesse momento trabalhando comoorientadora pedagógica de uma escola e com o casamen-
Em termos gerais a dinâmica da paciente mostrava uma
to marcado para o final do ano em curso. Iniciamos uma
identificação de modelo histérico com o pai. O fato des-
psicoterapia de base psicanalítica com freqüência de 2
te ter, nos últimos anos, se tornado uma figura fragilizada,
vezes por semana. Ao longo da terapia foi ficando cada
doente e impotente para muitas coisas - e disto ter coin-
vez mais clara a necessidade de se casar logo, apesar
cidido com o movimento que a paciente fazia de busca
das dúvidas que tinha, na tentativa de ter a presença do
da saída do núcleo da família (exogamia) com um na-
pai na cerimônia. O pai veio a falecer 2 meses antes do
moro mais sério e planos de casamento - veio sobrepor
casamento. Sem ataques de pânico e sem medicação a
uma identificação melancólica pela culpa de planejar
paciente passou a paciente passou o primeiro ano do
abandonar o pai. Nas descrições que fazia dos ataques
casamento com inúmeros conflitos consigo mesma , com
de pânico era clara a preocupação maior com os sinto-
a nova situação, incorfomada com a morte do pai e inca-
mas de parestesia, que lembravam o derrame do pai.
paz de assumir seu novo papel. Teve então uma recidiva
No relacionamento com os irmãos adotava uma postu-
do quadro de pânico e voltou a ser medicada, novamente
ra agressiva, arrogante, de extrema independência,
com bons resultados terapêuticos. No ano e meio que se
como se substituísse o pai no papel de patriarca que
seguiu de terapia foi conseguindo aos poucos assumir o
sempre tivera até a doença. Após a morte do pai pas-
seu papel de esposa, principalmente depois que foi ca-
sou por um período em que também se considerava
paz de discutir seriamente com o marido suas frustrações
morta, incapaz de se sentir agente dos seus atos,
com relação ao ideal de segurança absoluta que tinha
vivenciando tudo como espectadora. Nesse período não
depositado nele, principalmente com a morte do pai. Con-
teve ataques de pânico, mas sim sintomas depressivos
tinua trabalhando na mesma escola, agora em cargo de
que no entanto não caracterizavam uma Depressão
mais responsabilidade e começa a pensar em voltar a
Maior. Em termos inconscientes os ataques de pânico
estudar e talvez fazer uma pós-graduação. No entanto,
pareciam simbolizar a quebra da relação onipotente
persistem indagações as vezes excessivas sobre o signi-
entre ela e o pai e o medo que nela gerava o desejo de
ficado da vida e do futuro; sente-se muito amedrontada
crescer, se individualizar, casar e ter filhos.
com a idéia de engravidar. Não foi até hoje capaz de ema-
Em termos clínicos a investigação endócrina feita não
revelou qualquer alteração que justificasse a obesida-
Casada em segundas núpcias, tem dois filhos do atual
de, afastando também um componente hormonal para
casamento e um do primeiro. Teve três abortamentos
o desencadeamento do quadro psicopatológico.
espontâneos. Tem um irmão mais novo que ela consi-dera ter sido sempre protegido pelos pais, em especialpela mãe, e a quem atribui em parte sua má situação
financeira, já que ele teria transferido para seu nomequase tudo que era dos pais e das tias solteiras, apesar
T. O M.P., sexo feminino, 51 anos, casada, procura tra-
de vivos. Seu relacionamento com o pai foi extrema-
tamento em janeiro de 1988. Conta na ocasião que aos
mente conflitivo, pois ela era muito ansiosa, preocupa-
18 anos teve uma crise de tremor acompanhado de mal
da em excesso com a saúde dos filhos e impunha limi-
estar e medo intenso durante uma viagem a Santos em
que ficou longe dos pais. Depois disso fez análise du-rante 4 anos. Não teve qualquer sintoma semelhante,
A paciente tinha sido medicada com clomipramina 10mg
exceto um certo mal estar quando viajava, até julho de
ao dia por um colega, mas havia apresentado uma in-
1987 quando teve de forma súbita uma crise com tre-
tensa piora, descrita por vários autores no início do tra-
mor, sudorese principalmente nas mãos, sensação de
tamento de alguns pacientes, recusando-se a tomar
nó na garganta como uma dificuldade de respirar, dor
novamente qualquer medicação. Iniciamos então uma
nas costas e medo de estar tendo alguma doença gra-
psicoterapia de base psicanalítica com freqüência de
ve. Teve mais quatro crises em cinco meses mas pas-
sou todo esse tempo temendo uma nova crise. Ela quesempre fora muito preocupada com saúde ficou maisainda, passando a pedir exames para o seu clínico na
esperança de detectar a causa do seu mal estar. Doisanos antes das crises atuais o marido começou a ter
A paciente havia se mostrado muito insegura, depen-
problemas financeiros e hoje a situação é bem delica-
dente das figuras adultas internalizadas, especialmen-
da. Isso a deixa extremamente insegura com relação
te da figura da mãe e propensa a usar o corpo como
ao seu futuro e dos filhos e marido.
meio de manifestação de desamparo e busca de aten-
ção, talvez apoiado na sua experiência com a mãe muito
preocupada com problemas de saúde e que talvez só
nesses momentos desse uma atenção espacial à filha,já que tinha no filho seu predileto. Este mecanismo era
F.F.D.L., sexo feminino, 24 anos, solteira inicia
usado especialmente quando os problemas financeiros
psicoterapia de base psicanalítica em março de 1989.
não permitiam que o marido lhe dispensasse muito tem-
Queixa-se que há dois anos tenta ter relações sexuais
po. Após três anos de psicoterapia está bem melhor,
com o namorado sem no entanto permitir a penetração
sem crises de pânico apesar de persistirem sintomas
por ter uma intensa representação de que o ato sexual
isolados e esporádicos de ansiedade autonômica, en-
é doloroso. Não há qualquer impedimento orgânico. É
frentando uma situação financeira ainda mais compli-
a filha mais nova de duas. Relata um relacionamento
cada. Parece ter conseguido internalizar figuras adultas
difícil com o pai que é muito rigoroso, ciumento e que
mais equilibradas, que não se desesperam frente a do-
não gostou de nenhum de seus namorados. A mãe é
enças e com elas se identificar, fortalecendo sua
considerada mais flexível, até um pouco superprotetora.
autoconfiança. Diminuiu suas consultas ao clínico e pode
A irmã é muito complicada. Teve alguns distúrbios de
agora se preocupar mais com o marido, que tem diabe-
conduta na adolescência, foi obesa e hoje é obcecada
tes, está obeso e não faz qualquer tipo de dieta. A pre-
por emagrecimento, provavelmente usuária de
ocupação tem sido não só justificada, como se mani-
anfetamínicos. Teve os ensinamentos sexuais em casa,
na escola e com amigas. Nunca se masturbou commedo de sentir dor. As carícias com os namorados são
As diversas avaliações clínicas realizadas durante o
inicialmente vividas com culpa e vergonha e posterior-
período em que faz terapia foram sempre normais,
mente com prazer mas não permite a penetração, fi-
mesmo após a menopausa que ocorreu nesse período.
cando tensa e com medo de ser machucada e sentir
Se bem que a menopausa costume ser um momento
dor. Não permitiu até hoje ser examinada por ginecolo-
de crise para as mulheres, os outros problemas que a
gista. Aos 17 anos a irmã um ano mais velha teve que
paciente teve que enfrentar durante esses três anos
ser operada de cistos múltiplos nos ovários. Ela come-
parecem ter ocupado o primeiro plano.
çou então a ter os mesmos sintomas, fez entãoultrassonografia que constatou os mesmo problema masde menor gravidade.
Alguns meses depois de iniciada a psicoterapia quei-
trabalhar, a não ser por um curto período no escritório
xou-se de ter sentido, no centro da cidade onde trabalha-
dos pais onde acabou fazendo serviços pouco qualifica-
va, uma crise repentina, de pequena intensidade com ton-
dos. No entanto se sente segura pois não tem que en-
tura, falta de ar, taquicardia, vista turva e medo indefinido.
frentar nenhuma nova situação. A recusa de se desen-
Esta se repetia sempre que ia a lugares muito cheios, que
volver se manifesta no campo da sexualidade por uma
passou a evitar. Encaminhada a um colega para ser medi-
defesa fóbica em que se representa a relação sexual
cada começou a tomar Rivotril 0,5mg ao dia. Foi apresen-
como um ato agressivo e potencialmente mutilador. Além
tando melhora gradual dos sintomas. No entanto sua difi-
disso o relacionamento com o namorado era tumultua-
culdade sexual parece estar muito relacionada a um grau
do e se submetia sempre a cenas exageradas de ciú-
de ansiedade ligada às situações de crescimento, como
mes e a padrões de comportamentos impostos por ele.
responsabilidades profissionais, assumir a sexualidadeadulta etc. As melhoras alcançadas no primeiro ano de
A morte da mãe a deixou num primeiro momento ainda
tratamento sofreram uma regressão determinada primei-
mais insegura, no entanto no plano sexual foi capaz de
ro uma regressão determinada primeiro pelo falecimento
ir permitindo uma maior aproximação no decorrer do
da mãe que era a figura de suporte da paciente, e depois
relacionamento com outro rapaz. Com a gravidez ines-
por uma gravidez seguida de abortamento, resultado de
perada e o abortamento houve um grande retrocesso.
uma relação sexual com penetração incompleta. Um ano
Curiosamente a maior dificuldade de lidar com a sexua-
e meio após se fechar novamente nas suas defesas de
lidade e a feminilidade foi acompanhada de avanços
características fóbicas volta a tentar enfrentar o mundo.
no que diz respeito a outros posicionamentos. Está mais
Continua medicada com Rivotril 0,5mg ao dia, sem sinto-
organizada com os cuidados da casa, começou a se
inteirar dos problemas com a herança que recebeu damãe, tentando dividir as responsabilidades com o pai. Mais recentemente voltou a se preocupar com as difi-
culdades sexuais, falando delas com maior freqüência.
o que mais chamou a atenção nesse caso foi a imaturi-
dade generalizada da paciente. Apesar de ter se forma-
do em Administração de Empresas nunca pensou em
O.C.P., sexo feminino, 51 anos, casada, teve em no-
vembro de 1987 uma crise de Pânico com tontura,
aos 51 anos, fora do período de maior incidência do
taquicardia, dor no peito, sudorese, ondas de calor, ná-
quadro. Na ocasião ainda estava mestruando regular-
Control of Hyperglycaemia in Paediatric intensive care September 2008 Welcome to the first CHiP newsletter! We hope you find the newsletter informative and interesting. We welcome your feedback and encourage you to contribute to future publications with any experiences or issues you would like to share with everyone. CHiP Sites Since the beginning of May
Test deployment of the “turbulence mooring” By Ilker Fer, Geophysical Institute, University of Bergen The ocean surface is a complex boundary where air-sea fluxes of mass, momentum and energy take place. The processes in this dynamic interface are of crucial importance for ocean circulation and ecosystems in general. The coupling between surface gravity waves, winds and currents in the